domingo, 12 de dezembro de 2010

Na Guiné-Bissau a poesia é uma arma

alt

Traços no Tempo – antologia de jovens poetas

A Fundação Cidade de Lisboa recebeu ao final da tarde de ontem, dia 15, o lançamento do livro “Traços No Tempo”, com apresentação do jornalista da RTP João do Rosário e de Edviges Tavares, estudante guineense.

alt

Tony Tcheka: "surge uma nova acção protagonizada por jovens da literatura guineense, como foi nos primeiros meses da independência".

A sala da Fundação não foi suficiente para o número de pessoas que acorreram ao evento e muitos tiveram de assistir de pé à declamação de poesias dos autores de Lisboa, que arrancaram por várias vezes calorosas palmas do público, numa tarde impregnada de poesia e cultura guineense. Nos rostos de todos a esperança num futuro melhor para o país, tanto no campo das artes como na luta para encontrar o caminho do desenvolvimento.

Traços No Tempo” é uma antologia poética de jovens daGuiné-Bissau, inserida no projecto “Djorson Nobu” (que significa em crioulo Geração Nova), e teve como princípios orientadores o rigor literário e a musicalidade dos poemas, com uma ligação ao humanismo e à Guiné-Bissau, reflectindo em geral os aspectos da vida no país. É composta por 23 autores, sendo 9 residentes em Portugal e 10 naGuiné-Bissau, com capa do artista plástico e musico guineense Maio Copé, responsável também pela animação musical do evento.

alt

Emb. Constantino Lopes da Costa: "Estão a surgir quadros que poderão valorizar a literatura guineense".

Devido às nuvens vulcânicas, o poeta Tony Tcheka não pôde marcar presença no evento, porque não teve voo para Lisboa. Mas enviou uma comunicação em áudio, classificando o acontecimento como “festa de poesia, porque num espaço de pouco mais de 30 anos surge uma nova acção protagonizada porjovens da literatura guineense, como foi nos primeiros meses depois da independência, também por jovens, dos quais tive orgulho de fazer parte, e que mais tarde vieram a ser apelidados de “os meninos de hora de Pindjiquiti”, pelo intelectual angolano Mário de Andrade”. Tony Tchekaconsidera que esta antologia “dá indicações claras de que o testemunho está passado e apresenta aqueles que serão os nomes sonantes no futuro naliteratura guineense”. Este poeta de referência guineense, autor do prefácio de “Traços No Tempo”, considera ainda positivo o surgimento destaantologia, “porque é bom que se tenha da Guiné-Bissau uma outra perspectiva, de coisas boas, e são contributos que podem vir a engrandecer esta pátria de Amílcar Cabral”.

alt

Prof. Doutor Tcherno Djaló: "A Cultura não é a principal referência, mas sim a única que devemos ter".

Presente na cerimónia, o embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, Constantino Lopes da Costa, em exclusivo a “CulturaPALOPsPortugal.com” realçou a importância do evento, “porque trata-se da divulgação da rica cultura guineense no estrangeiro, para que os outros povos possam ficar a conhece-la melhor”. Confessando que a literaturaescrita da Guiné-Bissau é principiante e mais virado para a poesia, Constantino Lopes da Costa contudo salienta que a literatura guineense está “a começar a caminhar porque já é capaz de produzir quadros que poderão no futuro valorizar ainda mais esta literatura”.

O Prof. Doutor Tcherno Djaló, ex-Ministro da Educação da Guiné-Bissau, reitor e fundador da Universidade Amílcar Cabral, em Bissau, disse a “CulturaPALOPsPortugal.com” que “a Cultura é a espinha dorsal de qualquer nação. A Cultura é um instrumento privilegiado que Cabral usou na luta” e acrescentou que, “neste momento em que o país parece não ter norte, a Cultura é a única referência que devemos ter”.

alt

Emílio Lima: "Vamos continuar a procurar apoios para a edição dos próximos dois volumes".

O poeta Emílio Lima, coordenador do projecto “Djorson Nobu”, questionado sobre os apoios recebidos para esta publicação, lamentou não ter recebido nenhum por parte do governo bissau-guineense, apesar das avultadas verbas disponibilizadas pela União Europeia para o financiamento de iniciativas culturais. Depois de ter batido a várias portas em Portugal, acabou por ser uma fundação holandesa, Fundação Bartolomeu Simões Pereira, que cobriu a maioria dos custos de edição deste primeiro volume. Na forja estão já mais 2 volumes, cuja edição se espera para ainda este ano.

Cá estaremos para os acolher!

(fotos João Teixeira) (texto de Saibana Baldé) Saibana Baldé, natural da Guiné-Bissau, estudante de licenciatura em “Estudos Africanos” pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dirigente associativo e autor.

Sem comentários:

Enviar um comentário