O "11 de setembro" da diplomacia mundial, aberto com a divulgação de mais de 250 mil telegramas secretos norte-americanos, também incluiu Cabo Verde na lista, cujo arquipélago "está sob vigilância apertada" há pelo menos um ano.
Segundo o jornal cabo-verdiano A Semana, Cabo Verde é um dos oito países da África saheliana -- curiosamente a Guiné-Bissau não está incluída no rol -- referenciados no Wikileaks, ao ser pedido "desesperadamente" à Embaixada dos Estados Unidos na Cidade da Praia "informações" sobre agitações sociais, tráficos de droga, padrões de governação e pormenores sobre o sistema de telecomunicações.
Nem o Governo cabo-verdiano nem os partidos políticos se pronunciaram ainda sobre o assunto.
O semanário cabo-verdiano salienta que os documentos do Wikileaks "não mostram os resultados da espionagem feita (ou em curso), mas apresentam as exigências da Casa Branca", pedidas pela secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, a 16 de abril de 2009, já na administração de Barack Obama.
"Os relatórios devem incluir, tanto quanto possível, informações sobre pessoas com ligações à região oeste-africana, organismos, cargos, nomes, posições e negócios, números de telefone, telemóvel e fax, lista de contactos de e-mail, cartões de crédito, viagens, horários de trabalho e outras informações adicionais", lê-se no jornal, que cita na íntegra um dos telegramas.
Segurança, governação, economia e sistemas de telecomunicações foram os quatro eixos principais da"espionagem" desencadeada pelos serviços de inteligência norte-americanos em Cabo Verde, que envolve também investigações aos governantes.
Na segurança, prossegue o jornal, os Estados Unidos pede aos seus agentes e diplomatas para recolherem dados pormenorizados sobre uma eventual presença de grupos terroristas, planos contra os norte-americanos, capacidade de resposta a ataques terroristas ou políticas de contenção do fundamentalismo islâmico.
As ordens passam também para uma averiguação ao funcionamento das Forças Armadas e de Segurança locais, a possibilidade de cooperação com os Estados Unidos, a capacidade dessas forças para integrarem forças de manutenção de paz e, não menos importante, se há ou não condições para, em caso de crise, os EUA instalarem uma base militar no arquipélago.
O narcotráfico na região, ligações com cartéis sul-americanos, e os dados dos principais suspeitos são outras das investigações pedidas, bem como informações sobre os "níveis de liderança"em Cabo Verde, atuação dos partidos políticos, dados biográficos dos respetivos líderes e seus recursos financeiros.
Nos telegramas, são ainda pedidas informações sobre a estabilidade governativa e democrática, corrupção, direitos humanos, saúde, segurança alimentar, as actividades da banca e no "mercado negro", políticas ambientais, relações externas e indicadores potenciais de instalação de campos de refugiados, dado o fluxo migratório sul/norte.
Além de Cabo Verde, os outros sete países africanos do Sahel referidos na maioria dos telegramas de Hillary Clinton incluem também o Burkina Faso, Chade, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Níger e Senegal.
(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.)
Com Lusa
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