Quaisquer declarações que apontem para uma redução do tráfico de droga na Guiné-Bissau ou noutros pontos da África Ocidental "devem ser consideradas prematuras, na melhor das hipóteses", alerta a organização suíça International Relations and Security Network (ISN).
A conclusão surge num artigo intitulado "O tráfico de droga em evolução na Guiné-Bissau e África Ocidental" publicado na segunda-feira no portal da ISN, na Internet.
O documento é da autoria de Davin O`Regan, investigador no Africa Center for Strategic Studies (agência especializada do Departamento de Defesa Americano) que contraria as posições assumidas por representantes das Nações Unidas no país desde 2009.
Apesar de as considerar "compreensíveis" face à diminuição de grandes apreensões de droga e face à ausência de outras evidências, considera que "uma análise mais aprofundada sugere que a complacência com o tráfico de droga na Guiné-Bissau deve ser evitada".
Por um lado, "incidentes anteriores indiciam que os traficantes podem ter ligações enraizadas no país e a maioria tem conseguido operar sem recear consequências, pelo que não têm razões para se afastar de um ambiente propício ao negócio".
Os países da África Ocidental continuam a ser "Estados fracos" e a falta de grandes apreensões "pode apenas refletir o uso de técnicas mais avançadas pelos grupos locais e uma mais meticulosa cooptação de órgãos chave na estrutura estatal", sublinha.
O artigo destaca a dimensão regional do tráfico de droga, "a operar através de diversas rotas e redes".
A partir de informação detalhada disponível publicamente, conclui que os estupefacientes "circulam através de uma variedade de Estados africanos, incluindo a Guiné-Bissau e seus vizinhos" - pelo que, quando o fenómeno parece desaparecer num país e surgir noutro, trata-se apenas uma adaptação pontual de rotas que têm vários percursos alternativos na região.
"Em vez de estar a diminuir, a extensão e impacto do tráfico de droga na África Ocidental pode estar subestimada", refere.
O documento analisa detenções passadas para realçar outro aspeto: os contactos africanos não serão apenas facilitadores de circulação de droga da América do Sul para o resto do mundo, mas serão eles próprios traficantes com o seu mercado.
"Mesmo que os traficantes estrangeiros fossem afastados da Guiné-Bissau, parece haver operadores locais com ligações fortes ao mercado de narcóticos, com contactos e capacidade para manter o seu ímpeto", destaca o artigo.
No documento publicado na segunda-feira, o autor recorda o relatório apresentado em junho pela Comissão do Oeste Africano sobre as Drogas (WACD, sigla inglesa), segundo o qual a "guerra" contra a droga "falhou" e a região é "uma nova placa giratória do tráfico mundial de droga".
Citando os valores do conselho de segurança das Nações Unidas no fim de 2013, a comissão estima que "o valor anual da cocaína em trânsito no oeste de África ronda 1,25 milhões de dólares, um montante largamente superior ao orçamento anual" de vários estados da região.
A WACD, criada pelo ex-secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan, e pelo ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, é composta por vários ex-dirigentes políticos africanos, como o ex-presidente cabo-verdiano Pedro Pires e o ex-secretário da Organização de União Africana Edem Kodjo.
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