quinta-feira, 17 de julho de 2014

Casamento precoce e mutilação genital feminina em debate na Guiné-Bissau

Várias organizações não-governamentais da Guiné-Bissau reuniram-se ontem para debater o casamento precoce e forçado e a prática de mutilação genital feminina, que afeta metade das mulheres guineenses entre os 15 e os 49 anos.


50% de mulheres com idade compreendida entre os 15 e 49 anos vivem com consequências da prática de excisão


Este debate antecede a cimeira mundial "Girl Summit" (Cimeira das Raparigas), que vai ter lugar em Londres na terça-feira, organizada pelo Governo britânico com o objetivo de criar um movimento à escala global para pôr fim ao casamento forçado e precoce e à mutilação genital feminina (MGF).

A presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas Nefastas (CNAPN), a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros guineense Fatumata Djau Baldé, será uma das presentes na cimeira de Londres.

Para divulgar a cimeira e a situação dos dois fenómenos na Guiné-Bissau (casamento forçado/precoce e MGF) Fatumata Djau Baldé, aproveitou o encontro para lembrar "números preocupantes".

"Na Guiné-Bissau, 50% de mulheres com idade compreendida entre os 15 e 49 anos vivem com consequências da prática de excisão", observou Djau Baldé.

A responsável acrescentou que "22% de meninas com idade compreendida entre os 20 e 24 anos foram casadas antes dos 18 anos de idade".

As consequências são múltiplas, segundo a ativista, tanto para a mulher como para os filhos que possa gerar no futuro, pelo que, defendeu, as duas práticas ancestrais devem ser abandonadas na sociedade guineense.

Fatumata Djau Baldé assinalou, entretanto, que tais praticas não são exclusivas da Guiné-Bissau mas registam-se em toda a África.

"Segundo as estatísticas das organizações de luta contra a prática da MGF, três crianças em cada 10 sofrem das consequências dessa prática, e sobre o casamento precoce em cada 1000 mulheres casadas tradicionalmente mais de três quartos são menores", afirmou.

Para o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) na Guiné-Bissau, Abubacar Sultan, a situação deve ser enquadrada como "uma gravíssima violação dos direitos humanos".

O responsável da UNICEF afirmou que, em desespero e como forma de evitar o casamento forçado ou precoce, “muitas raparigas africanas ficam grávidas de propósito, o que de si é um outro problema, notou Sultan.

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