Participou ontem em Lisboa na 76.ª reunião extraordinária do Comité de Concertação Permanente da CPLP dedicada à situação na Gui-né-Bissau, enquanto representante do país na presidência da organização. A libertação de figuras militares é sinal de estar em curso a estabilização interna?
São sinais positivos que nos fazem acreditar estarmos perto do início do processo de estabilização, reconstrução e paz na Guiné--Bissau. Um aspecto fundamental dessa estabilidade depende do ambiente de segurança no país, e este está ligado ao problema estrutural das forças de segurança. Há uma sucessão quase interminável de causas e efeitos que é importante ser entendido pela comunidade internacional.
Que deve ser feito para superar esse ciclo?
A Guiné-Bissau precisa mais de acções do que palavras. Nesse sentido, Angola negociou com Bissau um programa multifacetado de cooperação, que abrange a assistência técnico-militar e a reforma das forças de segurança. É preciso compreender que a representação da autoridade do Estado tem de ser feita com instrumentos que lhe permitam recuperar esse papel na Guiné- -Bissau.
Mas esse é só um aspecto da crise...
Sim. A actividade económica está paralisada. Isto implica elevados níveis de pobreza, o aumento da delinquência e fenómenos como o narcotráfico. Este não poderá ser combatido se não for combatida a pobreza. Por isso, Angola avança com este acordo geral de cooperação que abrange também o apoio à recuperação das actividades económicas e à balança de pagamentos. Os benefícios serão para a Guiné-Bissau e para a CPLP, além de constituírem um sinal para a comunidade internacional de que o país pode ter um rumo diferente.
O narcotráfico é hoje uma ameaça à própria existência do Estado guineense. Que pode ser feito para vencer esta ameaça?
O problema é grave, mas não é do outro mundo. A Guiné-Bissau não produz e não tem capacidade financeira para consumir estupefacientes. É um ponto de trânsito. Se considerarmos que a América Latina é a fonte produtora e a Europa o grande consumidor, é preciso vontade política para reconhecer esta realidade e actuar de acordo com isso.
Faria sentido uma presença internacional para actuar de imediato contra o narcotráfico na actual conjuntura?
O Governo de Bissau não se opõe a nenhuma presença internacional, desde que não represente a usurpação do seu próprio poder. Mas aliado a uma presença internacional, deve efectuar-se a reforma e capacitação das forças de segurança, e atacar as razões da presença do narcotráfico.
Após quase duas décadas de conflito, os actores políticos e sociais guineenses acreditarão ainda na pacificação do país?
Já vimos outros conflitos, como o angolano, em que antigos inimigos convivem e trabalham lado a lado. O caso guineense pode resolver-se mais facilmente do que em Angola. O que é importante é que o guineense não perca a esperança. É essa ausência que leva a actos desesperados.
Sem comentários:
Enviar um comentário