terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Energia, Banca e Agricultura estreitam laços da China com os Países de Língua Portuguesa em 2009

Macau, China, 28 Dez – Uma década de expansão acelerada do espaço económico sino-lusófono encerrou em 2009 com novos laços na energia, banca e agricultura, apesar do previsível recuo do valor das trocas comerciais entre a China e os “oito” lusófonos.

A quebra do preço de matérias-primas que constituem o cerne das trocas com Angola (petróleo) ou Brasil (soja) levou a um forte recuo das trocas entre os países lusófonos e a China no início do ano, mas a recuperação iniciou-se logo no segundo semestre.

As estatísticas dos Serviços da Alfândega da China indicam que, de Janeiro a Outubro, as trocas atingiram 50.230 milhões de dólares, menos 26 por cento do que em 2008 (máximo histórico de 77 mil milhões de dólares, mais 66 por cento do que em 2007).

Olhando mais para trás, são amplas as razões para comemorar a primeira década do regresso de Macau à China (1999) no campo económico: entre 2003 e 2006, as trocas mais do que triplicaram, para um total de 34 mil milhões de dólares no final de 2006.

No ano passado, Angola tornou-se no maior parceiro comercial da China em África, e já em 2009 o Brasil passa também a ter como principal parceiro a China.

Devido à quebra das receitas fiscais do petróleo, Angola viveu uma situação de aperto financeiro, mas a reconstrução do país avançou.

Já no final do ano, o governo de Angola lançou o “Projecto de Infra-estruturas do Camama” (Luanda), empreendimento de 174 milhões de dólares a cargo de um consórcio chinês, contemplando 145 mil habitações; mas as construtoras de Pequim concluíram também barragens, estradas e ergueram estádios para o CAN-2010.

Angola e China contam a partir deste ano com novo acordo-quadro de cooperação, que visa “estimular a promoção de associações entre empresas chinesas e angolanas, com base no princípio da complementaridade e joint-venture”.

Luanda já recebeu de Pequim créditos no montante de 4.500 milhões de dólares para apoiar o processo de reconstrução nacional, onde participam cerca de 50 grandes grupos chineses e mais de 50 mil cidadãos chineses, segundo dados recentes.

Mas Angola é, crescentemente, também um investidor no estrangeiro, seja na energia ou no sector financeiro, em Portugal – Galp Energia, Millennium Bcp, EDP, Zon – ou na Guiné-Bissau (bauxite, Porto de Buba).

O investimento directo de Angola no estrangeiro atingiu 1,2 mil milhões de dólares no ano passado, cerca de quatro vezes mais do que em 2007, reflectindo a expansão sem precedentes da entrada de receitas petrolíferas, segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

Outro grande eixo das relações sino-lusófonas é, cada vez mais, a Agricultura, e Angola, Moçambique e Guiné-Bissau podem vir a ter um papel importante no fornecimento de bens alimentares a Pequim, segundo o investigador Loro Horta.

“Tem sido dada atenção considerável aos interesses chineses no petróleo e outros recursos minerais africanos, mas é talvez na agricultura e processamento alimentar que a China terá um impacto mais significativo no futuro do continente”, defende o académico, em estudo divulgado em Junho.

Para fomentar a produção agrícola em Angola, o Banco de Desenvolvimento da China (BDC) abriu uma linha de crédito de 1,2 mil milhões de dólares.

Em Moçambique, está prevista para 2010 a abertura do primeiro Centro de Pesquisa e Transferência de Tecnologia Agrícola da China em Moçambique, com objectivo de quintuplicar a produção de arroz do país, para 500 mil toneladas por ano.

Também a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) abrirá nos próximos meses um escritório em Moçambique, responsável por coordenar um projecto de 10,7 milhões de dólares para revigorar as instituições locais de pesquisa, adaptar sementes ao solo e clima, conservar recursos naturais e treinar cientistas locais.

Na Energia, São Tomé e Príncipe reforçou a sua importância na política energética externa da China, por via da aquisição da Addax pela Sinopec, que dá à petrolífera chinesa controlo de metade dos quatro blocos da zona de desenvolvimento conjunto São Tomé e Príncipe-Nigéria (JDZ) e também poderá estimular o desenvolvimento desta.

No caso do Brasil, a Petrobras assinou um contrato de empréstimo no valor de 10 mil milhões de dólares com o BDC, que vai permitir investir na exploração das grandes reservas descobertas no litoral da região sudeste do Brasil.

A petrolífera brasileira garante, em troca, a exportação futura de petróleo para a China (150.000 barris por dia no primeiro ano), principalmente o do tipo mais pesado, que as refinarias locais têm dificuldades em processar.

O BDC vai ainda financiar em 2,2 mil milhões de dólares a compra de aviões da brasileira Embraer por companhias de aviação regional na China.

Destaque ainda para o papel da sucursal de Macau do Banco da China na criação de uma rede financeira sino-lusófona, através de acordos com bancos em países como Angola ou Moçambique.

Lao Chak Kuong, director-geral assistente da instituição, afirmou recentemente que Cabo Verde e Guiné-Bissau também estão nos horizontes, através de acordos de cooperação com instituições congéneres.

Outra rede financeira está a ser criada pela Geocapital que este ano entrou em Cabo Verde, na Caixa Económica, depois da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. (macauhub)

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