sábado, 24 de novembro de 2012

Cidade de Cacheu acolhe festival e alerta para degradação do património

Cacheu, O festival de Cacheu, cidade do norte da Guiné-Bissau, foi  aberto hoje, visando divulgar a cultura da região e fazer lembrar que o património local está em "acentuado estado de degradação".


"Apesar dos esforços do Governo e da UNESCO, parte do património está em acentuado estado de degradação e em risco de desaparecer", disse na sessão de abertura do festival o ministro da Educação do Governo de transição, Vicente Pungura.


Cacheu é a cidade mais antiga da Guiné-Bissau e fica junto do rio com o mesmo nome, tendo crescido muito graças ao tráfico negreiro, do qual há ainda alguns vestígios, como um dos caldeirões onde era feita a comida para os escravos. Há também um forte construído pelos portugueses e diversas estátuas, como as de Diogo Cão ou Nuno Tristão, além de símbolos de Portugal um pouco por toda a cidade.

É esse património histórico que hoje o ministro referiu como correndo o risco de desaparecer se não for preservado.
O tráfico de escravos, disse, acabou por criar fortes relações de amizade com portugueses, brasileiros e cubanos, e o Festival Cultural de Cacheu "não é só um encontro de música, de artistas e de exposições, é a demonstração do desejo de levar a cabo a sensibilização sobre a necessidade de adoptar um plano estratégico de salvaguarda do património cultural", afirmou.


Com a presença de vários ministros do Governo de transição, coube ao Presidente da República de transição, Serifo Nhamadjo, abrir o festival, aproveitando para dizer que o país está "num processo de reencontro" e que o mesmo tem "altos e baixos", ainda que "os problemas devem ser motivação para se fazer mais e melhor".

"Aos que participam, que interajam e que compreendam os outros. É a diferença cultural que deve dar o exemplo para outros sectores de como podemos ser diferentes e estar juntos, de pensar diferente e coabitar", disse Serifo Nhamadjo, pedindo "coragem" aos guineenses para os tempos difíceis que o país atravessa.  

De hoje até domingo passam por Cacheu grupos de música e de dança tradicional e de grupos de música moderna e foram organizadas palestras e exposições de escultura, de produtos locais e de artesanato.
E para lembrar que da primeira feitoria portuguesa saíram no passado milhares de escravos para o continente americano foi apresentada uma peça de teatro lembrando esses tempos, onde não faltou a chegada dos portugueses com prendas e aguardente, os escravos acorrentados, os maus tratos e o embarque para o Brasil. 

E também a música e a dança pelo Ballet Nacional da Guiné-Bissau. Porque é preciso preservar a memória de Cacheu que é património nacional, como disse o governador local, que falou nomeadamente da necessidade de criar um museu na cidade e de se restaurar as estátuas. 

Enquanto tal não acontece vão-se organizando festivais culturais, "um momento de definição de tarefas comuns de preservação do património e da memória colectiva", como diz um grande cartaz à entrada da cidade. 

O festival, que terá a duração de três dias, vai na terceira edição. Como as outras junto ao rio Cacheu e no largo principal, onde subsiste um monumento português mas onde o símbolo das quinas já mal se vê.

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