Por
FILIPE EDUARDO - Jornal de Angola
O comissário-geral da Polícia da Guiné-Bissau, major general Bitchofula Na Fafé, caracterizou a reunião ordinária dos chefes de Polícia da comunidade dos países de língua portuguesa, que decorreu de 31 de Outubro a 4 de Novembro, em Luanda, como “a reafirmação e a fortificação dos laços de amizade e fraternidade que sempre nortearam os nossos povos”. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, Bitchofula Na Fafé falou da importância de encontros do género entre os países que falam a mesma língua em busca da tranquilidade, progresso e bem-estar.
Jornal de Angola - Que análise faz ao encontro de polícias que produziu a Declaração de Luanda?
Bitchofula Na Fafé - Este encontro foi a concretização e continuação dos ideais que sempre nortearam os nossos povos. Ontem o inimigo era o regime colonial português que, fruto da guerra que os nossos povos levaram a cabo, foi vencido com a conquista das independências e hoje continuamos na mesma trincheira, contra males que afectam a paz e tranquilidade das nossas comunidades.
JA – O que considera importante no combate à criminalidade no espaço lusófono?
BF - Na luta contra a criminalidade e todos os males que afectam os nossos países, nós devemos ter a mesma linguagem, o mesmo pensamento e as mesmas estratégias num processo contínuo de troca de experiências e informações, com o objectivo de alcançarmos resultados que sirvam os nossos povos.
JA - As conclusões finais satisfazem os anseios da Guiné-bissau?
BF - Tal como aconteceu noutros países da CPLP, as orientações que foram tomadas neste encontro foram pertinentes e vão trazer, certamente, os resultados que todos esperamos que é a diminuição considerável da criminalidade e a tranquilidade das populações.
JA - Que informações tem de Angola sobre a criminalidade?
BF - A luta de libertação contra um inimigo comum que os nossos povos travaram levou-me a conhecer Angola muito cedo e por isto sou também daqui e vivo, tal como na Guiné, os problemas do povo angolano. Em Angola hHá problemas, como em toda a parte, mas o país está no bom caminho com o fabuloso processo de reconstrução nacional. Eu sou combatente da luta de libertação da África lusófona, conheço a realidade do processo que levou Angola à conquista da independência, da mesma forma como conheço a da Guiné-Bissau.
JA – Quais são as preocupações do comandante-geral da Policia da Guiné-Bissau?
BF - As grandes preocupações não só minhas mas de todos os membros da corporação e da nação em geral têm a ver com a permanente busca de soluções para garantir sossego à população.
E nesta busca de soluções contamos sempre com o apoio dos irmãos de outros países, por esta razão marcamos presença neste e noutros encontros da CPLP. O combate à imigração ilegal, violações, roubos, homicídios e outros crimes graves, têm tido respostas adequadas, mas o objectivo é sempre melhorar.
JA - Há apoio da população guineense ao processo de combate ao crime?
BF - Há sim apoio da população, aliás o contrário seria um desastre. Esta colaboração entre a Polícia Nacional e a população constitui sempre uma preocupação das autoridades policiais e do Governo guineense e tem sido valioso para o combate à criminalidade.
JÁ - A Guiné é um dos pontos de passagem de drogas. Qual tem sido a acção da polícia no combate ao tráfico?
BF - A nossa luta é imparável e constitui um grande desafio para as autoridades policiais no sentido de controlar o vasto perímetro de fronteiras com outros países, que muitas vezes dão facilidades para a entrada de criminosos no nosso território. Tal como está a acontecer com os países da CPLP, temos tido também com os países da CEDEAU encontros regulares para tratarmos de questões ligadas à segurança dos países vizinhos e a questão da droga tem merecido especial atenção.
JA - Que fronteira preocupa mais as autoridades policiais guineenses?
BF - Temos uma pequena fronteira com a Gâmbia que não constitui preocupação. As fronteiras com o Senegal e a Guiné Conacry são extensas e constituem preocupação para o nosso país. É nestas duas áreas que o movimento de pessoas e bens é frequente e problemático.
JA - Se tivesse que dar um conselho ao seu homólogo angolano, qual era?
BF - O comandante-geral da Polícia Nacional de Angola é um amigo pessoal de longa data e como amigos podemos falar de muitas coisas, não só ligadas à nossa actividade policial cuja missão é a manutenção da tranquilidade, mas também pessoais. Sobre um possível, diria que é premente a necessidade de reforçar, cada vez mais, a capacidade combativa dos efectivos contra o crime para o bem das nossas populações.
JA - Como se sente em Angola?
BF - O meu convívio com os angolanos data desde há muito tempo. Ainda jovem, trabalhei com muitos irmãos angolanos durante as várias preparações combativas na antiga União Soviética, Checoslováquia e Moçambique. Por isso, em Angola sinto-me em casa. Este àvontade que sinto em Angola é o resultado dos fortes laços culturais e até consanguíneos que os nossos dois povos mantêm há longos anos.
JA - O que admira na Polícia Nacional angolana?
BF - Conheço a bravura da Polícia Nacional e das Forças Armadas Angolanas e espero que continuem a manter a defender a integridade nacional e tranquilidade do povo angolano, para a satisfação de todos.
JA - Que personalidades cruzaram a sua vida durante a luta de libertação contra o colonialismo?
BF - A lista é longa. Em Angola cito um grande amigo do povo guineense, o saudoso Doutor António Agostinho Neto, em Moçambique o inesquecível Presidente Samora Machel, e em São Tomé o Presidente Pinto da Costa, só para citar estes.
JA - Os governos da CPLP estão no bom caminho no que diz respeito à segurança?
BF - Os governos dos países da CPLP devem erguer o rosto e observarem com atenção para descobrirem o que o povo, entre velhos, mulheres, jovens, crianças e todos os integrantes da sociedade, precisam para viver em tranquilidade e paz social.
JA - Como analisa as relações entre os países da CPLP?
BF - Estamos separados geograficamente, mas unidos no sentimento e no pensamento, na busca comum de soluções para o bem da comunidade. A relação é boa entre os países da CPLP. A nossa irmandade é cada vez mais firme e a luta de todos os que fazem parte da comunidade, vai no sentido de tornarmos o espaço lusófono um lugar único, onde todos podemos viver em paz e com dignidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário