O IX Festival Internacional de Cinema arranca esta quinta-feira em Lisboa e assinala os 50 anos da Guerra Colonial com o ciclo "Movimentos de Libertação em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau (1961-1974)". Ana Glogowski, directora do doclisboa, diz que "nunca mais se fez cinema assim".
De 20 a 30 de Outubro, o doclisboa volta a trazer à capital uma selecção de documentários. Serão mais de 180 filmes em exibição na Culturgest, Cinemateca, Cinemas São Jorge e Londres e Teatro do Bairro. Mas também as habituais masterclasses gratuitas, encontros informais com realizadores e retrospectivas do trabalho de Jean Rouch e Harun Farocki.
O programa deste ano oferece também uma uma retrospectiva histórica de filmes sobre as guerras de libertação das colónias portuguesas em África. Segundo o programa do festival, trata-se de "um resgate das obras cinematográficas mais significativas filmadas junto dos Movimentos de Libertação, cuja raridade e dispersão prometem reflexão, descobertas e emoção".
Para a directora do Festival, o ponto comum aos 15 filmes deste ciclo é “uma espécie de presença por trás das fronteiras da guerrilha” que mostra “a guerra de dentro”. “Filmavam em condições de trabalho muito difíceis. Iam sozinhos, com câmaras muito mais pesadas do que as de hoje, com som separado”, recorda Anna Glogowski em declarações à agência Lusa.
“Hoje as coisas são muito mais imediatas. Você filma com qualquer coisa. Com um objecto pequeno você pode quase fazer um filme”, destaca, comparando com os cineastas que "partiam para o outro lado do mundo, com equipamento em película, e depois só viam aquilo que tinha sido filmado quando voltavam para casa".
“Foi muito complicado conseguir reunir esses filmes, porque foram filmados em 16 milímetros, em formato totalmente diferente, há umas cópias que estavam estragadas”, sublinha Anna Glogowski. “Têm um arzinho meio antiquado”, mas ao mesmo tempo lembram à juventude de hoje um contexto de “ditaduras e guerras”, acrescentou a directora do doclisboa 2011.
Ana Glogowski também defendeu a existência de uma lei do cinema em Portugal, uma vez que “todos os países onde há legislação são países onde se produzem mais filmes”. E deu o exemplo do seu país de origem, o Brasil, que se inspirou no modelo legislativo francês para a área do cinema e onde hoje “existe todo um sistema de captação de recursos e o cinema brasileiro levantou voo”.
Quanto à possibilidade levantada pelo Governo de passar a existir uma relação directa entre as receitas de bilheteira e o apoio aos filmes, a directora do doclisboa entende que “tem que se impor primeiro uma política de distribuição e difusão”, uma vez que “é muito difícil, quando há tão poucos filmes e não há uma política de promoção sistemática das obras dos cineastas portugueses, determinar de antemão que os subsídios vão estar directamente ligados a um número de entradas”.
Sem comentários:
Enviar um comentário