quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os trabalhos de Carlos Gomes Júnior


Luanda - Com o regresso ao trabalho do primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, é esperada a resolução de vários «casos» pendentes que marcam a agenda política e militar da Guiné-Bissau desde 01 de Abril. No topo das prioridades, a nomeação do novo CEMGFA, em substituição de Zamora Induta, ainda detido.

Poucas dúvidas parecem existir de que António Indjai, o líder dos revoltosos de 01 de Abril, é o candidato escolhido para o lugar mais elevado na hierarquia militar no país. Indjai tem vindo a cimentar a sua posição com visitas aos quartéis do país para tomar o pulso à classe militar e assumir a posição de herdeiro natural do ex-CEMGFA Tagmé Na Waie, assassinado num atentado à bomba em 2009.

Acossado tanto a nível militar como a nível político pelas alas internas do PAIGC que procuram a queda do seu governo, Carlos Gomes Júnior gere o actual momento em busca de equilíbrios que lhe permitam garantir a sua sobrevivência, política e não só. As movimentações militares do 01 de Abril lideradas por António Indjai mostraram a debilidade das alianças internas e as limitações do poder político guineense.

A nomeação de Indjai até poderia ser vista como a sucessão natural de Zamora, não fosse Indjai ser o responsável pela detenção do ainda CEMGFA e por na manhã de 01 de Abril ter detido Carlos Gomes Júnior, ameaçando mesmo com a sua morte para dispersar uma manifestação popular espontânea que tomou conta das ruas de Bissau. Indjai é ainda acusado de ter orquestrado a operação de narcotráfico em Cufar no início de Março, factos largamente apontados pela Comunidade Internacional como impeditivos da sua continuação na estrutura das Forças Armadas guineenses. A nomeação de António Indjai como CEMGFA só poderá ser entendida numa lógica de cedência do poder político, e nomeadamente do primeiro-ministro, ao poder militar e como forma do Governo responsabilizar o Presidente da República pela política de índole presidencialista seguida e que conduziu aos eventos de 01 de Abril.

Em segundo lugar na lista de prioridades está a anunciada remodelação Governamental. Carlos Gomes Júnior, a viver um momento de fragilidade política depois da sua detenção a 01 de Abril, terá necessariamente de fazer cedências ao aparelho do PAIGC, já de si dividido entre os seus apoiantes e os seus detractores. A necessidade de Cadogo em pacificar a cena política poderá mesmo levar à inclusão no novo Governo de elementos que contribuíram para a erosão da estabilidade governativa do país. Carlos Gomes Júnior poderá ter de ceder alguns dos nomes do seu novo Governo ao próprio Presidente da República, Malam Bacai Sanhá, também ele um reconhecido opositor interno do primeiro-ministro no PAIGC, como forma de recuperar estabilidade governativa.

Como consequência destas cedências em prol de uma paz, nem sempre pacífica, Carlos Gomes poderá ver-se numa situação de refém dos interesses do seu próprio partido. Um papel que forçosamente terá de desempenhar, de modo a garantir uma certa imunidade às ameaças que pairam sobre si, tanto a nível político, como ao nível pessoal.

Rodrigo Nunes

(c) PNN Portuguese News Network

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