terça-feira, 1 de junho de 2010

Opinião (Guiné-Bissau: Em nome da Pátria)



Luanda - Carlos Gomes Júnior saiu da Guiné-Bissau passadas três semanas das movimentações militares de 1 de Abril. Cuba, Paris e Lisboa foram os seus destinos e todos hoje em Bissau se perguntam para quando o regresso do líder do Executivo.

Nas últimas semanas, o Primeiro-Ministro guineense tem sido ameaçado de morte, de prisão e de participação nos crimes que mancharam a história recente do país. Mas apesar da intensa pressão interna, Carlos Gomes Júnior mantém-se determinado em regressar ao país e em efectuar uma remodelação governamental.

A esta vontade não será indiferente a pressão da Comunidade Internacional, que tal como referiu Mutaboba, o Representante Especial do Secretário Geral das NU na Guiné-Bissau, começa a admitir que «a paciência tem limites». As «crises recorrentes» e o «tom acusatório» usado contra a Comunidade Internacional, tornando-a no bode expiatório de uma crise de origens exclusivamente internas, aceleram este cansaço provocado pela falta de resultados palpáveis no país. Num momento de grave crise financeira mundial, a contínua injecção de verbas europeias num país onde as leis nada parecem significar, começa a despoletar a vontade de adopção de medidas radicais.

Os EUA, para além da inclusão dos primeiros nomes guineenses na lista do Departamento do Tesouro, reforçaram já a sua presença militar na sub-região, estreitando parcerias com Cabo Verde no combate marítimo ao narcotráfico. Espanha e França, as principais portas de entrada de droga na Europa, reclamam de Bruxelas por medidas urgentes. Portugal tenta mediar a situação da Guiné-Bissau junto dos parceiros internacionais, fruto dos laços históricos e culturais, apesar de ser directamente afectado pelo narcotráfico proveniente da África Ocidental.

A preocupação da Comunidade Internacional ganha novo peso, quando o nome de António Indjai continua a ser ventilado como o mais forte candidato a CEMGFA guineense. Indjai, líder dos revoltosos de 01 de Abril, é associado internacionalmente a dois factores: narcotráfico e insubordinação. É por isso rejeitada qualquer possibilidade do mesmo vir a ocupar um cargo militar de relevo na Guiné-Bissau, a par de Bubo Na Tchuto, num futuro próximo.

Carlos Gomes Júnior tem sentido o enorme peso destas pressões, pois é o único interlocutor que a Comunidade Internacional verdadeiramente reconhece. Apesar da legitimidade do Presidente da República Malam Bacai Sanha, as suspeitas que têm vindo a avolumar-se do seu directo envolvimento nos eventos de 01 de Abril, a sua obsessão pelo controlo do Governo e do PAIGC e a sua vontade de agradar a países como o Senegal e Marrocos, mesmo com directo prejuízo dos interesses nacionais da Guiné, têm vindo a refrear as boas intenções de alguns parceiros internacionais. Em um ano de mandato, Malam acabou por sobressair internacionalmente pela negativa, ao procurar criar uma espécie de «governo sombra» com conselheiros para todas as áreas de governo, com vencimentos equivalentes ao de Ministros.

A comunidade internacional exige que, para bem do povo guineense, as quesílias pessoais que no passado ditaram o relacionamento entre os dois líderes do PAIGC já há muito deveriam ter sido ultrapassadas. Mas tal parece não ter ainda acontecido e o Presidente Malam, apesar do esforço notório para evitar o derramamento de sangue em 01 de Abril, parece ter uma agenda política própria, que alimenta desconfianças no seio da Comunidade Internacional.

Perante a ausência de alternativas viáveis e de uma realidade política subordinada ao receio das armas dos militares, as organizações internacionais começam a considerar a hipótese do envio de uma força de militar de interposição para a Guiné-Bissau, capaz de efectivar uma reforma das Forças Armadas e de garantir a segurança de todos os que tenham uma opinião que não se enquadre no defendido pela força das armas. Esta hipótese tem, no entanto sido veementemente recusada pelo Primeiro Ministro Gomes Júnior, afirmando que a «Guiné se pode levantar sozinha».

Mas o Primeiro Ministro sabe também que os constantes rumores sob a sua pessoa são um verdadeiro sinal de que a sua segurança corre perigo e que o seu regresso pode despoletar acções de subversão e até mesmo atentados contra a sua vida. Estes receios não são uma mera invenção. Efectivas ameaças têm vindo a ser proferidas em público, a começar pelo próprio António Indjai, no dia 01 de Abril, por deputados e responsáveis do PRS, por alguns militares de segunda linha e até por deputados do PAIGC afectos ao reduzido grupo «anti-Cadogo» e com ligações ao narcotráfico. A ocorrer uma tentativa de atentado, tal poderia ser a gota de água que precipitaria a intervenção militar internacional.

Este Governo do PAIGC conquistou, com provas dadas, a comunidade internacional, pelo que esta observa com desagrado as estratégias mal camufladas para promover o seu afastamento. Se as ameaças dos jornais e blogs, que procuram levar o Primeiro Ministro a não regressar, não parecem surtir efeito, elas parecem demonstrar uma situação de subordinação, pela coação das armas, do poder político ao militar, com o alto patrocínio do Presidente da República. Nenhuma das duas será aceite pela Comunidade Internacional.

Rodrigo Nunes

(c) PNN Portuguese News Network

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