domingo, 14 de fevereiro de 2010

Nelson Mandela "é um homem excepcional", diz Pedro Pires

Cidade da Praia - Nelson Mandela "é um homem excepcional", a quem se deve "admirar a força física, espiritual e mental" e a postura
"generosa e humanista", disse hoje(sexta-feira) à Agência Lusa o Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires.

Pedro Pires comentava os 20 anos comemorados sobre a libertação do antigo líder do Congresso Nacional Africano (ANC), a 11 de Fevereiro de 1990, que, quatro anos mais tarde, se tornaria o primeiro Presidente negro da África do Sul, depois de ajudar a terminar com o regime de segregação racial ("apartheid") sul-africano.


"Conheci Nelson Mandela em 1962. Passou por Marrocos, onde me encontrava, numa reunião do Bureau do CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas). E, pouco depois, em 1964, veio a sua prisão", lembrou Pedro Pires, um dos principais negociadores da independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau.


"Primeiro há que admirar a força física de Nelson Mandela. Segundo, a força espiritual e mental de Nelson Mandela. Terceiro, a sua postura generosa, humanista que ultrapassa os ressentimentos. É um homem excecional",sustentou.


Para o actual chefe de Estado cabo-verdiano, um dos principais dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Mandela merece "todo o apreço".




"Não só pela forma como assumiu o poder, como também pela como superou a sua prisão", ao longo de 27 anos, na penitenciária de Robben Island, ao largo da Cidade do Cabo, referiu Pedro Pires, defendendo que a libertação de Mandela já era prevista.


"A libertação dele estaria nas previsões ou não? Essa é a questão. Eu acho que sim. Toda a África Austral foi, mais ou menos, um processo único e a derrota do exército sul-africano em Angola acelerou o fim do apartheid e também a libertação da África do Sul do racismo. Temos de ver isso na globalidade", sustentou.


"Moçambique pagou muito por isso, Angola pagou muito por isso, o Zimbabwe e a Zâmbia, sobretudo esta, pagaram por isso, e temos de analisar tudo globalmente, a África Austral no seu todo", sublinhou.


Para Pedro Pires, que foi primeiro ministro de Cabo Verde entre 1975 e 1991 e é presidente desde 2001, "a derrota do poderoso exército sul-africano em Angola acelerou" o fim do "apartheid" e "mostrou que não havia saída para a continuação do regime".

"Mas temos também de ver isso como uma conquista de todos os movimentos de libertação da África Austral. Foi uma pessoa que teve um papel importante, mas foi também um trabalho de equipa. A sociedade sul-africana demonstrou também ser madura, e pôde ultrapassar tudo isso sem grandes traumas", continuou.

Salientando que, dos dois lados, houve também maturidade política - Frederik de Klerk era então o Presidente sul-africano -, Pedro Pires salientou que "mesmo a população branca (da África do Sul) se portou bem".

"Está claro que houve a superação de todos, mas também chegaram à conclusão de que era tempo de terminar o «apartheid» e estabelecer novas relações entre as várias componentes da sociedade sul-africana", concluiu.

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