Bissau, 14 dez (Lusa) - A Guiné-Bissau voltou a viver mais um ano de instabilidade e, apesar de a palavra "paz" ter sido a mais pronunciada, o país termina 2012 num clima de incerteza e sem soluções visíveis para a crise atual.
Com 2013 à vista, o parlamento critica o Governo, os partidos criticam o parlamento, a imprensa fala de mau clima entre as Forças Armadas e as forças da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), o executivo critica o representante da ONU, e a CEDEAO e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) continuam a não se entender quanto à Guiné-Bissau.
No final do ano passado, nada fazia prever que em 2012 a Guiné-Bissau teria um golpe de Estado e que a sua economia cairia a pique. O fim deste ano só prenuncia o desconhecido.
"O ano de 2012 começou como um momento de grandes promessas e largas esperanças de o país crescer", disse à Lusa o analista político guineense Rui Landim.
Assim parecia de facto, apesar de uma alegada tentativa de golpe de Estado a 26 de dezembro. Mas 2012 começou mal para a Guiné-Bissau: o Presidente Malam Bacai Sanhá morreu a 09 de janeiro, o que levou a eleições presidenciais antecipadas.
Raimundo Pereira, presidente da Assembleia Nacional Popular e por isso Presidente interino, marcou a votação para 18 de março e Carlos Gomes Júnior, até então primeiro-ministro e presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), candidatou-se.
As polémicas estalaram aí: sobre a legalidade da candidatura do primeiro-ministro a Presidente, depois a propósito dos resultados das eleições - cuja primeira volta Gomes Júnior ganhou -, contestados por cinco candidatos, um deles Kumba Ialá, presidente do Partido da Renovação Social (PRS, segundo maior partido) e segundo candidato mais votado.
"As grandes convulsões começaram com a morte do Presidente da República e depois as eleições antecipadas complicaram mais o país. Havia um primeiro-ministro que estava a levar a cabo reformas e depois protagonizou uma possível rotura constitucional", disse Rui Landim.
A 12 de abril, véspera do início da segunda volta das presidenciais, militares, chefiados pelo chefe das Forças Armadas, António Indjai, prenderam Carlos Gomes Júnior e Raimundo Pereira, libertados duas semanas depois e desde então em Portugal.
Com o país sem rumo, com os militares nas ruas, os pequenos partidos e o PRS juntaram-se numa Plataforma e assinaram um Pacto de Transição, que o PAIGC recusou. Com o beneplácito da CEDEAO, formou-se em maio um Governo de transição e foi nomeado Presidente de transição Serifo Nhamadjo, vice-presidente do parlamento e também um militante do PAIGC que concorrera nas eleições à revelia da direção do partido.
Com o parlamento parado, perseguições, espancamentos e assassínios políticos pelo meio, o resto do ano foi gerido pelas autoridades de transição, que a esmagadora maioria da comunidade internacional não reconhece.
Sem apoios internacionais, com uma desastrosa campanha do caju (principal produto do país), a economia caiu e as previsões de crescimento diminuíram também para metade.
A 21 de outubro, uma suposta tentativa de contragolpe mergulhou de novo a Guiné-Bissau em dias de insegurança. Seis mortos foi o balanço oficial de um alegado ataque a um quartel.
A ONU fala ainda de aumento de tráfico de droga no país e de "graves violações dos direitos humanos e atos de intimidação cometidos por militares".
Nas palavras de Rui Landim, o país foi "para o fundo do poço". E o analista não augura nada de bom para 2013. "A Guiné-Bissau, que começou com prenúncios bons, vive hoje uma crise com proporções incalculáveis", diz o analista, que conclui: "2012 é um ano para esquecer".
FP // HB
Lusa/fim
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