O ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, José Luís Guterres, afirmou à Lusa que a suspensão da intervenção do presidente deposto da Guiné-Bissau no debate da Assembleia Geral da ONU "silenciou a voz do povo guineense" no plenário internacional.
"Foi silenciada a voz do povo da Guiné-Bissau na ONU. É uma situação que não devemos permitir", disse Guterres, em declarações à Lusa no final de uma semana diplomática intensa na ONU, em que na sexta-feira, após queixa da CEDEAO, o presidente deposto Raimundo Pereira viu suspensa a sua intervenção.
CPLP e CEDEAO têm estado divididas sobretudo em relação ao reconhecimento do governo saído do golpe de Estado militar em abril, que o bloco lusófono rejeita, trabalhando apenas com o executivo deposto de Carlos Gomes Júnior.
A queixa da CEDEAO, sob pretexto de que a intervenção aumentaria a instabilidade na Guiné-Bissau, está a ser apreciada pelo comité de credenciais da Assembleia-Geral, que deverá fazer uma recomendação ao presidente o plenário, o sérvio Vuk Jeremic, sobre se Pereira pode ou não intervir no debate anual.
Jeremic terá depois de submeter a decisão a votação pela Assembleia-Geral, adiantou o diplomata, sendo difícil que tal venha a acontecer até à conclusão do debate anual, na segunda-feira.
Para Guterres, é "profundamente lamentável que presidente da Assembleia Geral não tenha dado voz a representante legitimo do povo da Guiné-Bissau".
"O nosso desejo é que se encontre rapidamente uma solução para que a voz [da Guiné-Bissau] seja restabelecida aqui na ONU", adiantou o ministro.
Raimundo Pereira afirmou sábado à Lusa que a credenciação da sua delegação para representar o país na Assembleia Geral da ONU foi uma "vitória", por ter sido recebido pelo Secretariado da ONU e a comitiva do presidente de facto, Serifo Nhamadjo, não ter sido creditada, apesar dos esforços da comunidade regional.
José Luís Guterres sublinha que ONU e CPLP continuam a reconhecer como representante legítimo do povo guineense o executivo de Gomes Júnior, eleito em eleições "livres e transparentes".
É necessária uma solução rápida para "repor a legalidade constitucional" no país, afirma o chefe da diplomacia timorense, cujo país conhece o tipo de "instabilidade" que afeta a Guiné.
"É a nossa experiência própria e falamos com o coração nas mãos quando olhamos para o povo das Guiné que continua a sofrer", disse à Lusa.
Isto, refere, "quando há muitas possibilidades para o país ser desenvolvido", dados os recursos naturais e recursos humanos de que dispõe.
O ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique afirma que a comunidade da África Ocidental (CEDEAO) apenas "defendeu a sua dama" minando na ONU o governo deposto da Guiné-Bissau, e que dos contactos entre os dois blocos sai uma "dinâmica" positiva.
Já sobre o argumento apresentado pela CEDEAO de que uma intervenção do governo deposto na Assembleia Geral elevaria as tensões em Bissau, o ministro Oldemiro Balói afirma que é "sensível e eventualmente pouco prudente" de ser utilizado.
Sem comentários:
Enviar um comentário