Bissau- Os líderes islâmicos da Guiné-Bissau assinaram quinta-feira uma declaração na qual confirmam que a prática da mutilação genital feminina "não está, nem é do Islão" e esperam que a mesma "seja erradicada o mais brevemente possível".
“Depois de longas e profundas discussões sobre o assunto entre os participantes, finalmente e quanto aos apoiantes da prática da mutilação genital feminina, estes ficaram convencidos, através de argumentos válidos e inquestionáveis, de que não existe nenhuma alusão no Alcorão relativa ao assunto e nem nos ensinamentos do Profeta, mas sim uma tradição que existia ainda antes do aparecimento do Islão", lê-se na Declaração de Bissau.
A Declaração, assinada pelo Conselho Superior Islâmico da Guiné-Bissau e pela "maioria dos Sábios do Islão", foi o resultado de dois dias de uma "Conferência Islâmica para o abandono da mutilação genital feminina", que terminou quinta-feira em Bissau.
O documento será lido sexta-feira numa das principais mesquitas de Bissau e os líderes religiosos apelaram à sua divulgação por todo o país.
Mahamadou Diallo, presidente da Associação Maliana para a Paz e Saúde, já tinha assegurado, no decorrer dos trabalhos, que "não há nenhum texto no Alcorão que fale da circuncisão de mulheres ou de homens".
Também o professor de estudos islâmicos Mohamed Shama, do Egipto, deixou a mesma garantia, afirmando que a excisão é um costume antigo e que foi praticado por muçulmanos de uma série de países "em imitação".
O responsável começou por dizer que muitos nos países não islâmicos não sabem nada sobre o Islão, a não ser que o homem pode ter várias mulheres, que as bebidas alcoólicas e a carne de porco são proibidas. E pensam também que a mulher é subalternizada em relação ao homem.
"O Islão não faz distinção entre o homem e a mulher relativamente àquilo que obriga os pais a fazer e àquilo que recomenda que seja o seu comportamento relativamente aos filhos", disse, acrescentando que a educação e a escolha de parceiro é um direito de ambos os sexos.
O Islão "proíbe qualquer dano físico do homem pelo homem. A base principal na legislação islâmica é a proibição de tocar no corpo humano se isso lhe causar danos", disse o professor, concluindo que a excisão genital feminina provoca danos físicos e, por isso, "é um costume que tem de ser travado".
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