O Presidente Ilegítimo de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, afirmou-se "muito triste" por ter sido impossibilitado de falar nas Nações Unidas e disse que o país "não merece" o que se passou na semana passada na ONU.
Serifo Nhamadjo chegou a Bissau depois de ter estado em Nova Iorque, com a intenção de discursar na 67.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
No entanto, quem foi credenciado para representar o país foi Raimundo Pereira, Presidente interino deposto no golpe de Estado de 12 de abril passado e que vive atualmente em Portugal.
Raimundo Pereira acabou também por não poder falar à Assembleia Geral, em resultado de um recurso interposto pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Quando partiu de Bissau, a intenção de Serifo Nhamadjo era, segundo disse, "fazer um apelo para a causa guineense" junto dos parceiros internacionais, nomeadamente das organizações sub-regionais e regionais, mas voltou com uma sensação de "tristeza" que, acredita, é extensível a todos os guineenses.
De acordo com Serifo Nhamadjo, Amílcar Cabral, o mentor do movimento independentista na década de 60, conseguiu que a Guiné-Bissau fosse escutada ma ONU, mas hoje em dia, um país independente, "não conseguiu fazer ouvir a sua voz".
"Acredito que para todos os guineenses é uma situação de tristeza", disse.
Não foi no entanto de tristeza o ambiente vivido hoje em Bissau, à volta do regresso de Serifo Nhamadjo.
Um "movimento de solidariedade" tinha prometido na terça-feira que o Presidente de transição teria hoje muita gente a apoiá-lo e de facto alguns milhares de pessoas foram para a rua acenar a Serifo Nhamadjo. Não faltou música, nem camiões carregados de jovens.
Antes, ainda no aeroporto, Serifo Nhamadjo manifestou a sua tristeza:
"Estou muito triste porque eu continuo a dizer que nós, guineenses, temos de virar a página para buscar soluções para o nosso país. A comunidade internacional só nos poderá ajudar, não é ela que vai resolver os nossos problemas, seja ela a parte sub-regional, linguística ou continental".
É com esse sentimento de "continuar a fazer esforços para que haja entendimento e inclusão" que regressou de Nova Iorque, disse Serifo Nhamadjo, não negando que a Guiné-Bissau conseguiu "carimbar uma nódoa negra na sua História" com o que se passou nas Nações Unidas.
O Presidente de transição explicou também que conversou com Raimundo Pereira sobre o que se pode fazer para que ele e Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro na altura do golpe e também desde então em Portugal, possam regressar rapidamente ao país.
"Estamos disponíveis, como gestores da transição, para ver como podemos facilitar isso", disse Serifo Nhamadjo, admitindo que também falou de futebol com Raimundo Pereira, um sportinguista confesso, enquanto Serifo é benfiquista. "Estando o Sporting no lugar em que está, eu lamentei isso", disse.
Ainda sobre o que aconteceu em Nova Iorque, Serifo Nhamadjo disse que a responsabilidade foi inteira do embaixador do país nas Nações Unidas, João Soares, que, acusou, bloqueou a credenciação de um novo embaixador e que não entregou a correspondência diplomática enviada por Bissau, emitindo outra para credenciar Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior.
"Foi retida a imagem de que as Nações Unidas é que fizeram uma opção de credenciar alguém, ou que houve disputa para que um passe e outro fique", afirmou, acrescentando que foram as próprias Nações Unidas que confirmaram só ter recebido pedidos de credenciação da parte de Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior.
Foi de resto Carlos Gomes Júnior quem apoiou financeiramente o embaixador em junho passado, disse Serifo Nhamadjo, adiantando que João Soares tem dívidas para pagar e que por isso está a bloquear a credenciação de um novo embaixador da Guiné-Bissau junto da ONU.
"Perguntei-lhe se era por causa do apoio financeiro (de Carlos Gomes Júnior) que estava a inviabilizar a presença do país na Assembleia-Geral. Não me respondeu", disse o Presidente de transição, acrescentando que há dois dias avisou o embaixador de que iria "dizer a verdade" quando chegasse a Bissau e que ele, embaixador, colocou "um país inteiro à beira do desastre".
Em breve, disse, estará na Guiné-Bissau uma missão conjunta das Nações Unidas, União Africana, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para verificar "o que existe".
"Porque se passa uma imagem de que estamos aqui em guerras e de que ninguém consegue sair à rua, que há medo e perseguições", referiu, acrescentando:
"De resto, acho que o importante é sentirmos que somos todos guineenses acima de tudo e que compete a nós ter capacidade para ultrapassar os nossos problemas, e não digladiar nas arenas internacionais. Isso não gratifica ninguém e muito menos o nosso país".
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