domingo, 1 de dezembro de 2013

“Não pode haver um exército em pleno século XXI que seja temido pelo povo” – José Ramos-Horta

O Representante da ONU, José Ramos-Horta à imprensa


Bissau  30 de Novembro de 2013) – Em entrevista recente com o Representante Especial das Nações Unidas na Guiné-Bissau teceu fortes críticas contra as Forças Armadas do país.

Para José Ramos-Horta, não pode haver um exército em pleno século XXI que seja temido pelo seu próprio povo. Mas, mais do que criticismo, Ramos-Horta gostaria que ele fosse ouvido pela chefia militar guineense.

Gumbe Radio

Eis a transcrição da parte da entrevista inerente ao aspecto militar e sobre o que fazer para devolver a esperança ao povo guineense:
“Por parte dos militares, eu tenho feito apelos diretamente para que eles, os militares, façam um esforço, deem passos em frente, tomem as medidas para se reconciliarem com a Nação.

O povo da Guiné-Bissau tem receios, tem medo dos militares. Não pode haver um exército em pleno século XXI que seja temido pelo povo. Esse exército deve ser respeitado. Esse exército cuida da constituição e a constituição diz a defesa da independência, soberania e da integridade territorial do país. Deve ser um exército respeitado e não temido.

No caso da Guiné-Bissau, o exército é temido pelo povo, devido aos actos de violência do passado e incluindo o passado recente. Eu tenho tido isto repetidamente ao irmão General António Indjai. Continuo também a reunir-me com eles e fazer apelos.

A responsabilidade [de fazer cobro à situação] cabe a todos, sobretudo à chefia militar.

Que Sinais de Esperança para a Guiné-Bissau?

O Sinal de esperança seria muito maior, se a chefia do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, nomeadamente o General António Indjai e outros me ouvissem e dessem passos em frente, seguindo os meus conselhos para primeiro, alterar todo o comportamento das Forças Armadas. Não ingerir mais na vida política do país. Não continuar a ser uma ameaça que paira no ar sempre para os políticos. Mas que também a chefia militar dialogue sempre, permanentemente com os partidos, com a sociedade civil para que mutuamente possam compreender-se porque, pela via do diálogo, eliminam-se dúvidas, o medo e a desconfiança.

É necessário para que os próprios partidos políticos, aqueles que tenham elementos armados, milícias armados, desarmam-se. Não pode haver num país como a Guiné-Bissau ou num qualquer país civilizado, milícias armados. Há elementos armados na Guiné-Bissau, para além das Forças Armadas, para além da Policia.

Portanto, a responsabilidade cabe a todos, mas sobretudo à chefia militar que foi a autora de golpes no passado. O apelo que eu tenho feito para eles — é que se querem recuperar o prestigio das Forças Armadas desde os tempos da luta de Amílcar — deem um passo em frente de reencontro com o vosso próprio povo, mudar de comportamento, alterando o vosso comportamento, evitando imiscuir na vida política e evitando todo e qualquer comportamento de indisciplina, de ameaças em relação à população civil.

Seria necessário um gesto assim que não exige muito. Ele exige apenas uma declaração pública de compromisso, solene e passar da frase de declaração aos actos de respeitar a democracia, o Estado de direito, não interferir no processo democrático, no poder judicial, na Assembleia e não intimidar os jornalistas. É simples de o fazer. Isto ganharia imenso um espaço de boa vontade para as Forças Armadas”.

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