domingo, 10 de janeiro de 2010

CABO VERDE-Tarrafal vai ser candidato a Património Mundial

Tarrafal vai ser candidato a Património Mundial

Processo está a ser ultimado para entrega à UNESCO. José Maria das Neves empenhado em preservar a memória das vítimas

O Governo de Cabo Verde deverá ter pronta toda a documentação técnica para a candidatura do campo de concentração do Tarrafal, situado no norte da ilha de Santiago, a Património Mundial da Humanidade já em 2011 ou, o mais tardar, em 2012.

O anúncio foi feito esta semana por Carlos Carvalho, presidente do Instituto de Investigação e Património Cultural (IIPC) cabo-verdiano, que referiu estar a documentação deste sítio histórico, já Património Nacional de Cabo Verde, a ser ultimada para ser entregue à UNESCO (a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

Carlos Carvalho defendeu, porém, ser necessário, "mais trabalho" para a apresentação de "uma candidatura com muita substância", aludindo ao facto de serem precisas obras de reabilitação naquele que ficou também conhecido por "campo da morte lenta" durante o anterior regime em Portugal. O Tarrafal foi definitivamente encerrado a 1 de Maio de 1974.

A reabilitação do Tarrafal, cuja candidatura a Património Mundial foi lançada pelo primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria das Neves, em Abril de 2009, já tem alguns anos, pretendendo o Governo transformá-lo num Museu da Resistência. Este projecto tem sofrido sucessivos adiamentos por alegada falta de verbas.

Formalmente instituído pelo regime fascista português, a 23 de Abril de 1936, sob a designação de colónia penal de Cabo Verde, o Tarrafal recebeu, numa primeira fase, até 1954, arbitrariamente e sem qualquer direito de defesa, 340 presos políticos que lutavam contra o Estado Novo.

Em Junho de 1961, com a luta dos movimentos de libertação desencadeada nas colónias portuguesas em África, o campo foi reaberto pelo regime de Lisboa com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinando-se então a encarcerar resistentes à guerra colonial em Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau.

Essa segunda fase do campo, já sem a célebre "frigideira" - hoje totalmente imperceptível -, durou 13 anos, até à data em que se deu o seu encerramento definitivo, a 1 de Maio de 1974.

Nesse período, 238 combatentes da luta pela independência das colónias estiveram presos no campo.

Actualmente, apenas 50 desses presos estão vivos. Juntaram-se em fins de Abril de 2009, 35 anos após o encerramento, num encontro que decorreu precisamente no Tarrafal, em que participaram também o antigo presidente português Mário Soares e Edmundo Pedro, que ali esteve preso entre 1936 e 1944.

"Temos de continuar a trabalhar para que este que foi um dos mais sinistros campos de concentração do salazarismo e que, hoje, é Património Nacional de Cabo Verde, seja também reconhecido como Património Mundial da Humanidade", afirmou José Maria Neves naquela ocasião. Para o chefe do Executivo da Cidade da Praia, dentro das paredes do campo do Tarrafal "estão guardadas histórias de pessoas e de povos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Portugal, escritas com suor sangue e lágrimas".

Reconhecida pela UNESCO em 2009, a Cidade Velha, 15 quilómetros a oeste da Cidade da Praia, é o único Património Mundial da Humanidade em Cabo Verde.

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