O combate e tratamento da Sida, Malária e Tuberculose está praticamente parado na Guiné-Bissau e os hospitais vivem "situações dramáticas", porque o Fundo Mundial criou entraves ao financiamento, disse esta segunda-feira em Bissau um responsável do sector.
A informação foi dada à agência Lusa por Carlos Ribeiro, presidente da Comissão de Coordenação Multissectorial (CCM), mecanismo criado no âmbito do Fundo Mundial e que se destina a envolver a sociedade civil, privados, o governo e doadores na gestão criteriosa dos dinheiros do Fundo. A Comissão está reunida esta segunda-feira em Bissau.
De acordo com o responsável, a luta contra o VIH-Sida, a Tuberculose e Malária está "praticamente nas mãos" do Fundo Mundial, que agora está a criar entraves ao financiamento devido ao golpe de Estado ocorrido no país a 12 de Abril passado.
O Fundo Mundial "não quer dizer abertamente que estão a suspender os apoios porque houve um golpe de Estado e que os países que o financiam não estão dispostos a colaborar com um governo que não reconhecem", diz só que quer assegurar-se de que há menos riscos no uso dos recursos, disse Carlos Ribeiro à Lusa.
O Fundo Mundial foi criado em 2002 e é uma organização internacional que junta dinheiro para distribuir por 150 países, apoiando-os na luta contra as três doenças. Os Estados Unidos e a União Europeia são dos principais financiadores do Fundo.
Para tentar "mostrar que o golpe de Estado não deve ser razão para se suspender a luta contra as três doenças" reuniu-se esta segunda-feira a CCM. "A nossa preocupação é a de que as condicionantes que são postas acabam por tornar praticamente como suspensa a disponibilidade de dinheiro para a continuação da luta", alerta Carlos Ribeiro.
Em causa estão apoios na ordem dos 60 a 70 milhões de dólares (47 a 55 milhões de euros), segundo Carlos Ribeiro, que pergunta: "eles dizem que não querem pôr em causa o tratamento de doentes, mas se não pagam salários como é que os medicamentos vão ser distribuídos?".
No Hospital de Cumura (arredores de Bissau) a "situação é dramática", garante o responsável, acrescentando que sem pagamentos de salários as pessoas que foram capacitadas pelo Fundo vão-se embora, "sem falar nas mortes, na suspensão de medicação e criação de resistências".
Carlos Ribeiro salienta que antes do golpe de Estado já havia atrasos no financiamento do Fundo, que agora foram agravados porque a instituição invocou "a política de salvaguarda adicional", um agravamento das condicionantes para que o apoio seja disponibilizado.
Para Carlos Ribeiro, tratou-se "de uma questão política e tem a ver com o golpe de Estado".
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