Candidato vencedor da primeira volta das presidenciais Carlos Gomes Júnior durante um acto político de massas realizado em Bissau
O representante do secretário-geral das Nações Unidas em Bissau, Joseph Mutaboba, admitiu na sexta-feira que entre as organizações regionais CEDEAO e CPLP existem apenas “incompreensões” sobre a Guiné-Bissau e que ambas estão disponíveis para dialogar.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) têm posições divergentes sobre a Guiné-Bissau, na sequência do golpe de Estado de 12 de Abril passado. A primeira apoia o governo de transição formado depois do golpe, enquanto a CPLP não reconhece o referido governo.
A crise na Guiné-Bissau levou Joseph Mutaboba e Ovídio Pequeno, representante da União Africana (UA) em Bissau, a contactos em vários países de África e também em Lisboa.
Na sexta-feira, em conferência de imprensa dada em Bissau, Mutaboba resumiu que “o que resulta claramente de todas estas consultas é que não existem grandes divergências entre a CEDEAO e a CPLP, mas acima de tudo incompreensões”.
Nas consultas, se por um lado ambos “reiteraram as suas posições”, eles “manifestaram sobretudo disponibilidade para o diálogo”, declarou, acrescentando que a ONU e a UA vão prosseguir os esforços de diálogo e que encontros entre parceiros importantes da Guiné-Bissau vão acontecer nos próximos dias.
Um deles decorre à margem da Assembleia-Geral das Nações Unidas, organizado pela ONU e pela UA e que junta CEDEAO, CPLP e União Europeia.
“Os resultados deste encontro vão servir de base à reunião do grupo de contacto internacional sobre a Guiné-Bissau, previsto para Addis Abeba”, referiu Mutaboba. Mas, acrescentou, mais do que o diálogo entre parceiros da Guiné-Bissau, é fundamental o diálogo entre os guineenses. Porque são eles os responsáveis por todas as crises históricas e são eles que têm de determinar “se esta é a última”. “O diálogo é difícil, mas não impossível. Todos dizem que estão prontos para dialogar”, esclareceu, considerando o momento actual uma ocasião única para os guineenses se olharem nos olhos, dizer a verdade, dizer que é preciso parar de uma vez por todas, mudar de página, reconciliarem-se, para que depois a comunidade internacional os ajude “sobre uma base sólida e sincera”.
Diálogo interno
Ovídio Pequeno manifestou a mesma opinião. E acrescentou que esta preocupação em relação ao diálogo interno surge do reconhecimento de que de facto na Guiné-Bissau há muitos problemas internos, particularmente a nível dos partidos políticos.
“Os partidos têm dialogado, é o início de um processo ainda frágil, mas que pode dar frutos. Mas temos de ter paciência e reconhecer que há dificuldades, que os partidos têm problemas internos e que enquanto não os resolverem qualquer iniciativa de diálogo vai ter obstáculos”, apontou Ovídio Pequeno.
O representante do presidente da Comissão da UA lembrou o problema da Assembleia Nacional, paralisada desde o golpe de Estado, uma questão “urgente” mas sobre a qual “o diálogo já foi iniciado”.
Mas há também a questão, recordou, de haver um governo inclusivo, ou a harmonização de uma posição a nível internacional. “É preciso ir, paulatinamente, resolvendo os problemas, com visão e respeito pela Carta de Transição. Se as partes na altura concluírem que isso não pode ser feito já, é outra etapa do percurso”, disse, quando questionado sobre se as eleições podem acontecer em Abril de 2013, como previsto.
Assembleia da ONU
Joseph Mutaboba não se referiu às eleições, mas explicou que quem representa a Guiné-Bissau na Assembleia-Geral das Nações Unidas é “uma questão dos Estados-membros”.
Serifo Nhamadjo e o governo de transição vão estar em Nova Iorque, à semelhança de Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior, o Presidente e o primeiro-ministro ilegalmente depostos. Joseph Mutaboba explicou que quando há mudanças num país, como aconteceu na Guiné-Bissau, o “dossier” é enviado ao Comité de Protocolo e de Acreditação, composto por Estados-membros eleitos anualmente, sendo esse comité que decide quem participa, razão pela qual não se sabe quem ou se alguém discursará na assembleia.
Mas uma certeza deixou perante os jornalistas: “Gostávamos de afirmar aqui e agora que nem as Nações Unidas nem a União Africana deixaram ou deixarão de apoiar plenamente este país, para que ele alcance a paz que o povo deseja”, declarou.
O mesmo já tinha sido expresso numa mensagem à Guiné-Bissau do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por ocasião do Dia Internacional da Paz, que sexta-feira se celebrou.
“Reitero que as Nações Unidas vão prosseguir o seu apoio, mas quero antes de mais sublinhar que qualquer apoio recebido não dará os frutos necessários enquanto não houver a participação de todos os guineenses nos esforços pela paz”, lê-se na mensagem.
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