sábado, 5 de março de 2011

Guiné Bissau: Segundo aniversário da morte Nino Vieira

 

Bissau, 2 de Março de 2009. Na residência presidencial, o Presidente Nino Vieira estava reunido com elementos da sua assessoria. Discutiam o atentado à bomba que ocorrera horas antes, no quartel-general do exército guineense, e que vitimizara o general Tagmé Na Waié.

Entre os militares, suspeitava-se que o ataque tinha sido ordenado pela presidência. As acusações entre o presidente e o general eram antigas e tinham sido reacendidas, com nova força, há pouco tempo. Presente na memória, o ataque contra a residência oficial de Nino, a 23 de Novembro de 2008, durante o qual dois guarda-costas tinham sido assassinados.
Poucos meses depois, em Janeiro, foi a vez de Tagmé Na Waié acusar o clã presidencial de ter encomendado o seu assassinato.
Agora, com a morte do Chefe de Estado Maior-General das Forças Armadas guineenses, as represálias não se fariam esperar. Militares, alegadamente, leais a Tagmé Na Waié cercaram a residência e contou Zamora Induta à AFP, "varreram-na de balas".
Nino foi assassinado quando se preparava para fugir. Conta-se ainda que o seu corpo foi esquartejado com uma catana.

Biografia de um presidente num país instável

João Bernardo Vieira, mais conhecido por Nino Vieira, nasce a 27 de Abril de 1939.
Electricista de formação, na luta pela independência, Nino torna-se um dos guerrilheiros mais conhecidos do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), partido formado em 1959 por Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Luís Cabral, entre outros.
Em 1973 a Guiné-Bissau proclama unilateralmente a independência, que é reconhecida por Portugal em 1974, depois da Revolução dos cravos.
Em 1978, Nino, que entretanto tinha subido na hierarquia do PAICG, é nomeado primeiro-ministro.
Em 1980, o primeiro Presidente do país, Luís Cabral, é deposto num golpe de estado, Nino Viera sucede-o na presidência e desvincula-se do PAICG. Extingue-se assim o projecto de unificação entre a Guiné-Bissau e Cabo Verde. Quatro anos mais tarde, Nino é eleito presidente do Conselho de Estado.
À semelhança de Cabo Verde, na década de 90, a Guiné-Bissau abandona o regime de partido único e abre-se ao multipartidarismo. Em 1994, Nino é reconduzido no poder ao vencer as primeiras eleições pluralistas do país.

Em Junho de 1998, Nino Viera é derrubado pela Junta Militar do general Ansumane Mané (antigo chefe de Estado-Maior), da qual fazia parte Tagmé Na Waié. A guerra durou 11 meses e o Presidente exilou-se em Portugal. A Junta Militar coloca o presidente da Assembleia Nacional, Malam Bacai Sanhá, como Presidente interino.

Em 2000, a Guiné vai novamente a votos. O Partido da Renovação Social (PRS) vence as eleições e Kumba Yalá chega à presidência. Mané é assassinado, alegadamente, no decorrer de uma nova tentativa de golpe de estado.

Três anos depois, um novo golpe de estado, levado a cabo por uma Junta Militar liderada, agora, pelo chefe de Estado-Maior, o general Veríssimo Correia Seabra , depõe Kumba Yalá. Seabra seria morto um ano mais tarde por soldados amotinados.

Em 2005, Nino regressa à Guiné-Bissau depois de seis anos de exílio em Portugal e vence as eleições presidenciais, como candidato independente. Tenta então a reconciliação política com antigos inimigos, nomeadamente o general Tagmé Na Waié, que na ausência de Nino do país se tinha tornado chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). Apesar das incompatibilidades Na Waie era apoiado pelas chefias militares balantas, maioritárias nas Forças Armadas guineenses e tinha inclusive o poder de evitar que Nino regressasse à Guiné. No entanto, depois de várias negociações os dois "arqui-inimigos" conseguiram uma convivência relativamente pacífica (pelo menos até 2008)

O "novo" presidente também tinha dissidências antigas com Carlos Gomes Júnior, eleito primeiro-ministro nas legislativas de 2004. Neste caso, Nino demite-o e coloca no seu lugar Aristides Gomes.

Em 2008 O PAIGC, liderado por Carlos Gomes Júnior, vence novamente as legislativas e apesar da renitência de Nino, forma governo.

Nino Vieira morre assassinado a 2 de Março de 2009.

Raimundo Pereira, então presidente da Assembleia Nacional Popular assume a presidência interinamente.

São marcadas eleições antecipadas para 28 de Junho de 2009 e Malam Bacai Sanhá sobre ao poder.

Há menos de um ano, em 1 de Abril de 2010, houve uma nova tentativa de golpe de estado, desta vez contra o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.

Guiné-Bissau, sem Paz

A Guiné-Bissau ainda é um país considerado instável e fortemente conotado com o narcotráfico, a nível internacional. Recentemente a União Europeia suspendeu parte dos programas de cooperação económica, alegando a instabilidade vigente no país, designadamente a intervenção militar de 1 de Abril.

O tráfico de droga, cujos interesses serviram para manter uma calma precária, envolve altas patentes militares do país e é apontado como um dos principais problemas do país.

A ONU classificou recentemente a Guiné-bissau como uma "Plataforma de transbordo" de Drogas.

A este problema juntam-se o tribalismo, a instabilidade institucional, a má administração da Justiça, o enfraquecimento do Estado, a corrupção e a falta de diálogo. Questões que se encontram expostas no livro "Voz de Paz", uma obra lançada pela ONG guineense com o mesmo nome (Voz de Paz) e que compila várias ideias sobre as causas dos conflitos na Guiné-Bissau.

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