domingo, 3 de fevereiro de 2013

Líderes interinos pedem reconhecimento português

O porta-voz do governo de transição na Guiné-Bissau disse hoje que Portugal cometeu "erros crassos" na resposta à crise no país africano e defendeu que "é chegado o momento" de Lisboa reconhecer o executivo em funções.

Em entrevista à Lusa em Lisboa, cidade onde se deslocou para participar no funeral de Domingos Fernandes, fundador do partido Resistência Guiné-Bissau (Movimento Bafatá), Fernando Vaz lançou um apelo ao governo português: "Portugal tem responsabilidade em relação à Guiné-Bissau".

Portugal, assim como a maioria da comunidade internacional, não reconhece o governo de transição da Guiné-Bissau, que entrou em funções depois do golpe de Estado de 12 de Abril, que depôs o presidente eleito, Carlos Gomes Júnior, exilado em Portugal desde essa altura.

"O governo de transição continua aberto, apesar de toda a ignorância que o governo português faz da realidade guineense", de modo "a que as autoridades portuguesas se aproximem para nos ajudarem a encontrar uma solução para a Guiné-Bissau", disse Fernando Vaz, ministro de Estado, da Presidência, Assuntos Parlamentares e Comunicação Social.

Para o também porta-voz do executivo de Bissau, "por enquanto" Portugal ainda tem uma palavra a dizer na Guiné-Bissau.

Questionado se isto significa que Portugal poderá deixar de ter uma palavra a dizer, Fernando Vaz disse que as autoridades de Bissau não continuarão "a permitir determinadas situações que têm acontecido" porque os guineenses, "apesar de pequeninos", têm dignidade.

"Entendemos que é chegado o momento, vivendo esta nova conjuntura de reconhecimento do governo pelo Banco [Mundial, que a 17 de Dezembro anunciou a retoma da cooperação com o país] e por outras instituições, que o governo português também o faça", disse.

O governante considerou ainda que, desde o golpe de Estado de abril, Portugal tem cometido "erros crassos", propondo a "apologia da resolução do problema da Guiné-Bissau pela violência".

Lembrou que após o 12 de abril, e ao contrário do que aconteceu em outras crises no país, em que Portugal servia de mediador, Lisboa "enviou vasos de guerra para Cabo Verde para invadir a Guiné-Bissau" e pouco depois pediu "o estacionamento de uma força multinacional" no país.

Para Fernando Vaz, a posição de Portugal mudou devido à sua relação com Angola, que antes do golpe de Estado tinha uma força militar estacionada em Bissau na sequência de um acordo com as autoridades de então.

"Os angolanos, a serem humilhados e expulsos como foram da Guiné-Bissau, e Portugal, participando nesse processo sendo parceiro e dependendo hoje muito de Angola, toma as mesmas posições de Angola. Embora Angola não fale, manda Portugal falar", afirmou.

Fernando Vaz, que nesta deslocação a Lisboa pediu reuniões com a Presidência da República e o Governo, sem obter respostas, nem sequer ao nível informal, disse ter já sido alvo de tentativas de represálias.

"Chamaram a minha esposa, que é portuguesa, ao SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), intimidando e querendo estabelecer algum clima desfavorável à minha vinda cá a Portugal. Mas, com a intervenção de um advogado amigo, nós conseguimos resolver o problema", contou.

"Se Portugal entender que eu sou 'persona non grata' que o declare e eu não venho cá mais", afirmou.

Lusa

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