03 de Janeiro, 2012
" Os ataques bombistas registados na Nigéria e mais uma tentativa de golpe de Estado ocorrida na Guiné-Bissau marcaram, com muito sangue, mais uma quadra natalícia no continente africano colocando-o, mais uma vez e pelos piores motivos no centro de todas as preocupações.
Na Nigéria, a intransigência religiosa foi o "argumento" utilizado pelos separatistas de Boko Haram para atacarem à bomba igrejas católicas precisamente na noite em que, por todo o mundo, se festejava o "Dia da Família".
Não tendo sido por mero acaso que os terroristas que se escondem por detrás de uma "capa" independentista escolheram a noite do dia 24 de Dezembro para assassinarem 40 pessoas, cujo único pecado foi o de estarem a orar pelo bem do mundo, a verdade é que estamos perante mais uma acção sangrenta que não deveria ter mais lugar em pleno século XXI.
A grande família nigeriana, já por si dividida por via das diferentes confissões religiosas dos seus membros, tem sido confrontada nos últimos anos com uma série de atentados terroristas que nada têm a ver com os ensinamentos emanados tanto por cristãos como por muçulmanos. Aquilo que verdadeiramente está em causa actualmente na Nigéria, é uma desenfreada luta pelo poder, tanto político como económico, e que tem impedido um mais acelerado e completo desenvolvimento do país.
Sendo um país maioritariamente muçulmano, a Nigéria é actualmente dirigida por um presidente cristão que acaba de ser confirmado depois da realização de eleições internacionalmente reconhecidas como "livres e justas".
Inconformados com o veredicto popular, a população muçulmana, que maioritariamente se encontra no norte do país, não tem dado tréguas enveredando, de forma cada vez mais firme, pelo caminho do terror para tentar chamar a atenção da comunidade internacional, como se fosse esta a culpada pelos seus sucessivos fracassos eleitorais. Numa altura em que os feitores das revoluções árabes tentam encontrar o seu rumo para chegar ao poder, começa a surgir a tendência para que o exemplo de intransigência e de revolta se instale nalguns países africanos com forte influência muçulmana.
A Nigéria e a Somália, cada um na sua própria medida, são dois bons exemplos daquilo que vem sendo a difícil convivência entre diferentes confissões religiosas e formas, amplamente opostas, de entender qual a melhor via para ascender ao poder.
O caso da Guiné-Bissau, pela sua complexidade, apresenta contornos bem diferentes ainda que não seja de minimizar a importância da religião muçulmana no influenciar de algumas decisões, bastando para isso ver que o próprio actual presidente do país é um muçulmano convicto.
Esta nova tentativa de golpe de Estado, sobretudo a forma que a corporizou, pareceu uma forma pouco inteligente de testar a força do actual poder e a lealdade de algumas alianças estabelecidas com o consentimento das diferentes organizações internacionais.
Seja como for, a verdade é que a pronta resposta dada pelas autoridades e o ágil funcionamento das alianças que sustentam o poder demonstram que existe a firme vontade e determinação em manter o país no caminho da recuperação social e económica por via da manutenção de um poder estável e democrático.
Não quer isto dizer que a Guiné-Bissau esteja livre de novas tentativas aventureiras de alterar o actual poder por via de uma qualquer tentativa de golpe de Estado mas, tão somente, que as instituições deram uma excelente resposta a mais esta acção de desestabilização. As alianças e os acordos estabelecidos souberam dar uma cabal resposta de modo a que o próprio governo tenha sentido que não está sozinho nesta difícil caminhada e que alguns amigos são confiáveis e estão interessados em que tudo dê certo.
As organizações internacionais, certamente atarefadas com a quadra festiva, tiveram mais uma vez um comportamento que dão de si uma imagem desfocada quanto ao papel que deveriam desempenhar.
Se no caso das bombas na Nigéria repetiram os anteriores apelos ao entendimento (recusando uma condenação cabal das criminosas acções) no que respeita a Guiné-Bissau limitaram-se a uma série de lugares comuns, não se ouvindo uma única palavra de incentivo e de reconhecimento para os esforços que as actuais forças no poder têm vindo a desenvolver para cimentar a normalidade governativa.
Seja como for, neste novo ano, aquilo que o Mundo Africano mais pode desejar é que lhe seja dada a oportunidade de tratamento igual ao de outros continentes e, também, que os seus filhos se unam em prol do desenvolvimento, deixando para trás os preconceitos de natureza espiritual, racial ou tribal.
Se isso acontecer, o ano de 2012 poderá ser vivido como o de todas as esperanças futuras."
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