A morte de Malam Bacai Sanhá a 9 de Janeiro lançou para a praça pública guineense um debate que a sua classe política discutia há muito em surdina. Desde a evacuação médica do Presidente para Dakar, e posteriormente para Paris, que a necessidade de abrir um novo ciclo político no país, capaz de fazer face aos desafios impostos ao país em prol da sua estabilização era debatida.
Face ao fracasso das acções de protesto do conjunto de partidos da Oposição Democrática nos últimos meses de 2011, e ao falhanço do Golpe de Estado de 26 de Dezembro do “narcobarão” Bubo Na Tchuto e do político Roberto Ferreira Cachéu, a morte de Malam Bacai Sanhá criou condições para uma nova luta no seio do PAIGC. De um lado, os “herdeiros” da ala política de Malam, os chamados “mambistas”. Do outro, Carlos Gomes Júnior, actual Primeiro Ministro guineense.
No campo mambista é grande a incógnita sobre o futuro. Malam nunca designou em vida quem seria o seu herdeiro, facto que pode levar a dissidências na própria ala. A ex-Ministra do Interior Satú Camará parece ser a figura principal da contestação, mas outros “mambistas”, como o conselheiro Presidencial Soares Sambú e o empresário Braima Camará, em tempos considerado como o Delfim de Malam apesar do seu historial criminal conturbado em Portugal, estão à espreita da oportunidade certa para discutirem o poder.
Já Carlos Gomes Júnior surge como o mais forte pretendente a reclamar o estatuto de candidato natural do PAIGC à Presidência da República Guineense. Quase no final do mandato, Carlos Gomes Júnior tem a seu favor, por um lado, a credibilidade que lhe é atribuída pela comunidade internacional, e por outro, o respeito de grande parte da população que lhe reconhece obra feita, nomeadamente no pagamento de salários da função pública, a negociação da dívida externa do país e o lançamento de múltiplos projectos para o desenvolvimento das condições de vida por toda a Guiné-Bissau.
Com o declarado apoio de Angola, Carlos Gomes Júnior tem sido capaz de ultrapassar os sucessivos obstáculos políticos e militares que têm marcado o seu mandato como Primeiro Ministro. Ultrapassou duas tentativas de Golpe de Estado, deu início ao processo de Reforma do Sector de Segurança e Defesa, e empenhou-se no combate ao narcotráfico, fenómeno que marcou os últimos anos da Guiné-Bissau..
Nas próximas semanas, o PAIGC deverá agendar com carácter de urgência o seu Congresso para definir qual o candidato do partido às presidências. Desta luta entre “mambistas” e “cadoguistas” sairá o “candidato natural” do partido para substituir Malam Bacai Sanhá.
Mas 2012 é também ano de eleições legislativas na Guiné-Bissau, e não é esperado que Carlos Gomes Júnior, agora sem uma oposição interna unida, venha a ter quaisquer dificuldades em impor o seu candidato para a Primatura Guineense. Ainda que sem confirmações, fontes diplomáticas angolanas em Bissau referem o nome de Domingos Simões Pereira como o principal candidato, não só pelo seu perfil profissional, mas sobretudo pelas capacidades demonstradas enquanto Secretário da CPLP.
A CPLP, cuja presidência é actualmente garantida por Angola, terá um papel decisivo no apoio à estabilização da Guiné-Bissau, e daí a necessidade de ter à frente do Governo alguém com conhecimento dos meandros de instituições internacionais. Embora em Bissau já se encontre a missão militar angolana Misang – em cujas instalações Carlos Gomes Júnior se refugiou durante os acontecimentos de 26 de Dezembro – fontes em Bissau referem a necessidade de um maior apoio internacional para a resolução dos principais desafios do país. “O combate ao narcotráfico, a continuação da reforma do sector de segurança e defesa, e o reforço da estabilidade do país não poderá ser entendido numa lógica bilateral Angola-Guiné-Bissau, mas sim no âmbito de uma organização como a CPLP e pelo reforço do apoio de países como Portugal”, referem deputados do PAIGC.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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