Gritos, insultos, ameaças de agressões caracterizaram a reunião de terça-feira entre a Ministra do Interior e o Primeiro-Ministro, discordante das nomeações propostas para os cargos dirigentes das POP.
Satu Camara é desde há muito apontada como tendo sido uma escolha errada para integrar o executivo guineense. O clima de tensão entre a Ministra e Carlos Gomes Júnior já se arrastava há algum tempo, tendo a discussão de ontem sido o culminar deste processo. Satú terá chegado mesmo a chamar “assassino” a Carlos Gomes Júnior, uma aceitação implícita das várias críticas anónimas que nas últimas semanas têm ligado o Primeiro-ministro aos assassinatos de “Nino” Vieira, Baciro Dabó e Hélder Proença, em 2009.
Satú Camara, devido às suas ligações políticas e pessoais ao Presidente da Republica e à Primeira-dama, Mariana Sanha sempre foi vista com desconfiança pelo Primeiro-ministro. «A Satú agia como braço direito da Presidência no interior da Primatura» refere fonte próxima da Comissão Política do PAIGC. A Ministra já vinha sendo apontada com principal alvo da remodelação governamental já anunciada por Carlos Gomes Júnior.
Na passada terça-feira, a Ministra pretendia dar posse a três novos comissários adjuntos e vários outros cargos de direcção sem consulta prévia ao Primeiro Ministro. No entanto, as escolhas da Ministra têm sido caracterizadas pela recolocação de elementos suspeitos de envolvimento em actividades ilícitas em lugares chave do Ministério.
Um dos casos mais flagrantes terá sido a nomeação de Amadu Djaló para a Chefia do Serviço de Segurança no aeroporto Osvaldo Vieira. Djaló havia sido referenciado internacionalmente como elemento de ligação internacional de redes de narcotráfico, razão que terá levado ao seu afastamento do Ministério do Interior.
Outro nome apontado é Abdú Camará, proprietário da empresa Sakala, que para além de proporcionar viagens de barco ao arquipélago dos Bijagós, tinha em funcionamento na sua propriedade uma pista de aterragem para o desembarque da cocaína. Camará, a desempenhar informalmente funções de Conselheiro da Ministra, seria um dos próximos nomes a ser nomeado oficialmente para o Ministério do Interior.
Estes são apenas dois exemplos que representam o percurso de Satu Camara num Ministério crucial para a estabilidade interna do país. Alvo de fortes pressões internas ligadas às actividades ilícitas, a Ministra acabou por ceder. No entanto, ao ceder Satu Camara condenou ao fracasso a reforma e a limpeza do Ministério do Interior. Carlos Gomes Júnior suspendeu a Ministra do cargo, encontrando-se a sua demissão dependente do regresso de Dakar do Presidente, que se encontra internado há uma semana.
Resta agora saber se o regresso de Malam Bacai Sanha colocará um ponto final na crise ou contribuirá para um maior agudizar da mesma na cada vez mais instável cena política na RGB.
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