Bissau - Defendida por Malam Bacai Sanhá como medida de estabilidade, a reintegração de Bubo Na Tchuto como CEMA terá sido dos poucos pontos da agenda guineense em que a Primatura e a Presidência da República estiveram de acordo desde 01 de Abril. A resolução do caso Zamora Induta é o próximo foco de tensão.
Com a libertação de Bubo Na Tchuto a 01 de Abril pelos militares revoltosos de António Indjai, a pressão das chefias militares junto do Presidente Malam Bacai Sanhá e do Primeiro Ministro Carlos Gomes Júnior para a reintegração do ex-CEMA nas suas antigas funções era cada vez mais manifesta.
A sentença do Tribunal Militar, que ilibou Bubo das acusações de tentativa de Golpe de Estado que motivaram o seu exílio de ano e meio na Gâmbia, e a não apresentação de provas de envolvimento no narcotráfico por parte dos EUA, após a classificação
como «principal narcotraficante da região Afro-Ocidental», tornaram impossível ao poder político continuar a resistir à pressão das armas.
A verdade é que mesmo fora da estrutura militar, era Bubo quem controlava unidade de Fuzileiros, uma das mais poderosas em termos operacionais da Guiné-Bissau e com fortes ligações ao narcotráfico. Em Bissau, eram notórios os crescentes atritos entre os fiéis a Bubo e os paracomandos, fiéis ao actual CEMGFA António Indjai, com acusações de que este último não estaria a fazer tudo o que estava ao seu alcance para resolver o “problema” de Bubo.
Face a esta situação de características explosivas, Malam e Carlos Gomes Júnior, num raro acto de consonância de posições, terão acordado de forma secreta a reintegração de Bubo na Tchuto na chefia da marinha, evitando assim que os atritos entre as forças militares pudessem degenerar em movimentações alargadas que pudessem pôr em causa o poder político democraticamente eleito. Com Bubo de novo na estrutura militar, o reequilíbrio no Estado Maior terá sido de novo atingido, possibilitando as condições de estabilidade para a resolução do próximo ponto da agenda guineense: a libertação de Zamora Induta.
Detido desde as movimentações de 01 de Abril, o ex-CEMGFA Zamora Induta viu recentemente o Tribunal Militar retirar-lhe todas as acusações de que foi alvo por parte do agora homem forte dos militares, António Indjai. O Luanda Digital sabe que as autoridades guineenses tiveram tudo pronto para anunciar a libertação de Zamora da prisão de Mansoa durante a última semana. No entanto, com o aproximar da data de libertação, tornou-se evidente em Bissau que as mesmas chefias militares que tinham pressionado Malam Bacai para o regresso de Bubo, afirmavam agora não ter a certeza de conseguir garantir a segurança do ex-CEMGFA uma vez em liberdade.
Perante o despacho do Tribunal Militar e a pressão dos militares, o Presidente Malam, Chefe Supremo das Forças Armadas segundo a Constituição da Guiné-Bissau, não terá conseguido fazer cumprir as suas ordens junto do Estado Maior. Zamora continua em Mansoa, à espera do cumprimento da deliberação do Tribunal Militar, que ordena a sua libertação.
O Luanda Digital apurou que a libertação de Zamora Induta estará dependente do sucesso que as iniciativas de cooperação militar venham a ter no futuro próximo da Guiné-Bissau. O propalado envio de uma Força Internacional para a Guiné Bissau poderá ser o contributo decisivo para a reforma do sector de Segurança e Defesa das Forças Armadas, permitindo uma melhoria efectiva das condições de recrutamento, formação e renovação dos quadros nos quartéis guineenses. Mas além disso, a presença de uma força internacional na Guiné-Bissau teria o efeito imediato de «acalmar» os ânimos de uma classe militar classificada pela Comunidade Internacional como instável e pouco dada à sujeição ao poder político.
Angola tem até agora liderado o processo de cooperação. Os contactos entre Luanda e Bissau estarão já avançados e o Luanda Digital sabe que a solução futura poderá passar pelo envio independente de um contingente militar angolano para actuar na área da Reforma, ao abrigo de um acordo de cooperação bilateral. Uma solução mais fácil de aceitar para os militares guineenses, que vêem na entrada no país de uma força internacional, quer no âmbito da CPLP quer da CEDEAO, como uma ingerência inadmissível à soberania da Guiné-Bissau.
Sem surpresas, esta posição, defendida nos corredores do poder por Malam Bacai Sanhá, entra em choque com a estratégia de Carlos Gomes Júnior para a Reforma das Forças Armadas Guineenses. No decorrer do último mês o Primeiro Ministro tem multiplicado os contactos com os parceiros europeus com vista ao regresso ao país do principal parceiro de cooperação de ajuda ao desenvolvimento, a União Europeia. A reunião em Bruxelas com o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, foi bem recebida pela Comunidade Internacional, que aguarda a adopção de medidas de impacto junto das instituições guineenses, condição para o envio da ajuda dos 15 milhões de euros necessários para cobrir o buraco orçamental do Estado Guineense.
No entanto, a implementação de medidas tem vindo a esbarrar não só na classe militar, com pouca vontade de abrir mão do real poder que representa no país, e de Malam Bacai, que cada vez mais desacreditado aos olhos da União Europeia e de outros parceiros tradicionais da Guiné-Bissau, procura nos países islâmicos, como a Líbia e o Irão, os seus derradeiros apoios para se agarrar à cadeira do poder guineense.
Rodrigo Nunes
(c) PNN Portuguese News Network
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