domingo, 17 de outubro de 2010

PAIGC em pé de guerra com Malam em silêncio

Grupo de históricos do PAIGC acusa o presidente do partido Carlos Gomes Júnior de implementar o divisionismo, afastando-se do legado político de Amílcar Cabral.

Depois de um período de relativa acalmia, as hostes políticas na Guiné-Bissau voltam e entrar em ebulição com o Primeiro-Ministro no centro dos ataques. As críticas a Cadogo, que não são novas, oriundas de um núcleo de personalidades próximas da Presidência demonstram que os resultados do Congresso de Gabú, quando Carlos Gomes Júnior ganhou a Malam Bacai a liderança do PAIGC, ainda estão por digerir.


O grupo, liderado por Roberto Ferreira Cacheu, Daniel Gomes, Marciano Silva Barbeiro e Manecas Santos, criticou em carta aberta dirigida a Carlos Gomes Júnior, presidente do PAIGC, a “incapacidade da actual cúpula directiva do Partido para garantir a unidade e a coesão interna”. O também Primeiro Ministro da Guiné-Bissau é ainda acusado de ter “enveredado pela via da violência, dos assassinatos políticos e espancamentos de figuras pública” e “instituir a eliminação física dos adversários como método de governação”, estratégia que colocou o PAIGC num “estado de terror interno”.


Na carta aberta, o grupo anuncia a intenção de convocar uma reunião extraordinária do bureau político do PAIGC para analisar a situação política da Guiné-Bissau e obter “explicações do presidente do partido sobre a governação e os crimes não esclarecidos e cometidos em 2009”.
O grupo contestatário a Carlos Gomes Júnior relaciona ainda os assassinatos de 2009, que vitimaram Hélder Proença e Baciro Dabó, com uma tentativa de Carlos Gomes Júnior de“decapitar e destruir a campanha eleitoral [presidenciais de 2009] do Camarada Malam Bacai Sanhá”.


Apesar da referência ao Presidente da República Malam Bacai Sanhá, principal opositor interno de Carlos Gomes Júnior no panorama político guineense, o grupo rejeita que esta carta aberta se trate de um “ajuste de contas dentro do partido, mas sim um diagnóstico das graves situações e atropelos da actual situação no PAIGC”.


Desde a publicação no blog Ditadura do Consenso de uma carta alegadamente escrita pelo Procurador Geral da República e dirigida ao Presidente Malam Bacai Sanhá, na qual Carlos Gomes Júnior era apontado como o mandante dos assassinatos de 2009, que a tensão política em Bissau se tem vindo a agudizar. Roberto Cacheu e Daniel Gomes, que agora lideram a contestação no PAIGC, têm também conduzido o grupo de familiares das vítimas dos assassinatos de 2009, exigindo a publicação dos processos de investigação actualmente no Ministério Público. O Procurador Amine Saad, tem-se remetido ao silêncio sobre este caso, estando actualmente nas Canárias numa viagem particular.

Durante a última semana, o grupo de familiares das vítimas liderado por Cacheu e Gomes manteve encontros com outros elementos da ala do PAIGC adversária de Carlos Gomes Júnior, bem como com elementos do PRS e do PRID. Dessas reuniões, realizadas sob sigilo máximo no Hotel Malaika, propriedade de Braima Camará, deputado do PAIGC e considerado o Delfim do Presidente Malam Bacai, terão saído as orientações para a actual estratégia de ataque a Carlos Gomes Júnior, de colagem da imagem do Primeiro Ministro às mortes de 2009.
Os ataques reflectem aquilo que há muito é voz corrente em Bissau. Desde a vitória sobre Malam Bacai Sanhá no Congresso de Gabú em 2008 que Carlos Gomes Júnior mantém o controlo do aparelho partidário e recolhe o apoio dos guineenses, como foi patente nas movimentações de 01 de Abril quando a população de Bissau saiu para a rua a protestar contra a detenção do Primeiro Ministro pelos militares revoltosos. Para os estrategas adversários de Carlos Gomes Júnior, o ajuste de contas interno terá de ser feito sob uma capa de legalidade, usando o argumento judicial para obtenção de ganhos políticos máximos, sem comprometer os resultados do partido nos próximos actos eleitorais, quer legislativos, quer presidenciais.


Malam Bacai, defensor confesso do modelo governativo de carácter presidencial e que há alguns meses chegou mesmo a afirmar aos órgãos de comunicação social “os sinais de envolvimento de políticos guineenses nas mortes de 2009”, tem mantido um silêncio “ensurdecedor” face à tensão no PAIGC e a um processo político que lhe permitirá, caso seja bem sucedido, reequilibrar a balança de poder guineense do pós Congresso de Gabú.

Rodrigo Nunes

(c) PNN Portuguese News Network

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