terça-feira, 22 de maio de 2012

Mali : Centenas invadem palácio presidencial e atacam Presidente. “Mas onde é que eu já ví isto?”

Centenas invadem palácio presidencial no Mali e atacam Presidente

Os manifestantes exigiam a demissão do Presidente interino Dioncounda Traore e quiseram removê-lo à força. Espancaram-no e rasgaram-lhe as roupas antes de serem dispersos a tiro pelos guardas presidenciais. Traore, de 70 anos, foi hospitalizado.

"Ele (Traore) foi levado de urgência ao hospital. Espancaram-no gravemente e rasgaram-lhe as roupas", afirmou ao telefone Bakari Mariko, porta-voz dos golpistas de 22 de março.


A guarda presidencial disparou sobre os manifestantes, matando três. "Isto foi uma multidão espontânea. Há três mortos e mais alguns feridos a tiro. A segurança de Dioncounda disparou sobre as pessoas" acrescentou Mariko, dizendo que os manifestantes acabaram por abandonar o palácio.


A invasão ter-se-á dado durante uma manifestação de milhares de pessoas contra o acordo alcançado domingo sob égide da CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental).
Sanogo "traidor"


Os manifestantes, convocado pela Coordenação das organizações patrióticas do Mali (favorável ao golpe de estado), rejeitam ter como presidente interino um representante da classe política dominante e exigem que o cargo seja atribuído com o acordo dos partidos políticos e da sociedade civil.


Muitos chamaram "traidor" ao capitão Amadou Sanogo, o chefe do golpe militar de 22 de março.


Sob os termos acordados este domingo, Sanogo viu ser-lhe atribuído o título de ex-Presidente com todas as benesses a ele ligadas, incluindo salário vitalício, casa e carro.


Em troca, Sanogo aceitou um novo período de governo interino de 12 meses sob chefia de Traore, o anterior líder do parlamento maliano, algo anteriormente recusado pelos golpistas.


Apesar de nas últimas semanas os militares terem aceitado o regresso da autoridade civil (interina), nunca se afastaram realmente do poder. Várias fontes referiem-se ao quartel-general de Kati, a 15 quilómetros de Bamako, como o verdadeiro centro do poder no país.


"Dever cumprido"


Após o golpe de 22 de março, Sanogo liderou o Mali por três semanas, antes da pressão internacional o forçar a transferir o poder para Traore.


Amanhã terminam os 40 dias de presidencia interina civil de Traore, previstos no âmbito da constituição do Mali e muitos receiam o regresso da violência nessa data, algo que o acordo pretende evitar.
Ainda esta manhã, os mediadores da CEDEAO chefiados pelo diplomata do Burkina Fasso, Djibril Bassolé, deixaram a capital maliana dizendo partir "com o sentimento do dever cumprido".


"Estavamos a dois dedos de um impasse", considerou um jornalista e analista maliano, Tiégoum Boubèye Maïga, acrescentado que todos, CEDEAO, junta militar e autoridades interinas cederam um pouco para conseguir esse acordo.


"No papel, o assunto está resolvido. Vamos ver agora como isto vai funcionar. Tenho esperança", referiu Maïga, considerando que o acordo "salvou a face" dos militares sendo ao mesmo tempo "uma vitória da democracia".


Traore tem um ano, a partir de terça-feira, para organizar eleições legislativas e tentar resolver a crise do norte, dominado por grupos armados islâmicos e por Tuaregues revoltosos.

País dividido


O Mali, um país de 15 milhões de habitantes, está efetivamente dividido em sul e norte desde março.


O norte  está na posse de grupos armados dominados por islamitas e por tribos Tuaregs que lutam pela autonomia, os quais aproveitaram o vazio de autoridade em Bamako para consolidar posições em três regiões, Kidal, Gao e Timbuctu.


O Mali vive uma grave crise alimentar e económica e uma das razões invocada pelos golpistas para a sua intervençção política a 22 de março de 2012, foi a falta de condições dadas pelo governo às forças armadas para controlarem o norte.


Desde meados de janeiro deste ano mais de 350.000 pessoas abandonaram as suas casas naquela região, para se refugiarem no interior do Mali e nos países vizinhos.

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