por CARLOS GOMES JUNIOR
Depois de adiadas por manifesta falta de condições, em Novembro último, as eleições gerais na Guiné-Bissau foram remarcadas para dia 16 de Março. Se esta nova data se confirmar, com a tomada de posse do novo Governo e do novo Presidente da República eleitos pelo povo em sufrágio directo, a Guiné-Bissau volta a ter oportunidade de regressar ao concerto das nações e de retomar o caminho de credibilidade entretanto perdido após o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012.
No entanto, as notícias que surgem da Guiné-Bissau mostram que há inúmeros grãos de areia nesta engrenagem, e que me levam a duvidar da seriedade das autoridades de transição e da sua real intenção em ouvir o que os guineenses têm para dizer nas urnas.
Basta lembrarmo-nos de que a data para o terminus do recenseamento eleitoral foi adiada e há notícias de fraudes, duplicação de cartões de eleitores, erros grosseiros e falta de meios. Mas mesmo que todo este processo estivesse a decorrer isento de críticas há, naturalmente, factores prévios a ter em consideração para que estas sejam consideradas umas eleições livres, transparentes, justas e inclusivas e que, no meu entender, não estão a ser asseguradas por quem tem a responsabilidade de concluir este processo. Neste momento não há liberdade de manifestação e de imprensa no país. Há claras violações dos direitos humanos. Cidadãos anónimos são arrancados das suas residências, detidos e espancados. Há um clima de medo.
Que credibilidade pode ter um acto eleitoral nestas circunstâncias? Que legitimidade poderá ter um futuro novo Governo e Presidente saídos de umas eleições que já estão feridas de morte?
Como ex-primeiro-ministro e ex-candidato presidencial reconheço que tenho especiais responsabilidades de contribuir para que a Guiné-Bissau possa retomar o rumo entretanto perdido. Tenho um projecto que foi interrompido em 2012 e sei o que quero para o meu país.
E foi por ter a certeza da força das minhas convicções e por saber que o povo almeja o meu regresso que, em Dezembro último, procedi ao meu recenseamento para as próximas eleições na Guiné-Bissau. É com esse espírito de missão e sacrifício que me preparo agora para regressar. Sei que corro riscos e que poderei ser alvo da ira das actuais autoridades ilegítimas da Guiné-Bissau que, publicamente, já manifestaram o desagrado a este meu regresso e à minha candidatura presidencial. Inclusivamente, já tentaram afastar-se das responsabilidades inerentes à minha segurança, como se a função primeira do Estado, qualquer Estado, não fosse a de garantir a segurança de todos os seus cidadãos, sem excepção.
Quero acreditar que a comunidade internacional tem uma palavra a dizer sobre a situação do país, uma palavra que não se deve resumir à esperança de que as eleições se realizem na data prevista.
Quero acreditar que a minha segurança e a de todos os filhos da Guiné-Bissau que se encontram fora do país e que querem regressar podem fazê-lo em segurança, porque irá imperar o bom senso e a verdade. Faltam menos de dois meses para a data prevista das eleições. Ainda estamos a tempo de corrigir o que de pior correu neste processo. Insto aqui a comunidade internacional a que possa ajudar, uma vez mais, a Guiné-Bissau.
Estejam atentos e vigilantes. Participem no processo eleitoral. Pressionem as autoridades ilegítimas da Guiné-Bissau para que todos, guineenses e comunidade internacional, entendam de uma vez por todas que a Guiné-Bissau não pode andar de eleições em eleições, de golpe de Estado em golpe de Estado esperando sempre a ajuda da comunidade internacional.
Pela minha parte, garanto que que serei candidato e voltarei ao meu país. É tempo de ajudar a Guiné-Bissau. Não podemos esperar mais tempo.
*O autor não seguiu o novo Acordo Ortográfico
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