Joseph Blatter ‘goleou’ o único adversário no acto eleitoral da sexta-feira passada. As federações asiáticas, africanas e centro-americanas tiveram um peso decisivo neste desfecho.
Existiam 133 razões para Joseph Blatter continuar a ser o presidente da FIFA. Foi esse o número de votos que permitiu ao suíço ser reeleito pela quinta vez consecutiva na semana passada. O príncipe jordano Ali bin Al Hussein alcançou apenas 73 votos na primeira ronda e desistiu de ir à luta na segunda volta.
Blatter conseguiu uma vantagem esmagadora apenas dois dias após as detenções de oito actuais ou antigos dirigentes da FIFA acusados de corrupção – sete na Suíça e um em Trinidad e Tobago. Apesar de mais este escândalo, o líder mundial do futebol voltou a juntar os votos suficientes para se manter à frente da FIFA, graças à força que consegue reunir nas confederações da Ásia (AFC), de África (CAF) e da América do Norte, Central e Caraíbas (CONCACAF).
Os presidentes são escolhidos pelas 209 federações que compõem a FIFA, cada uma com direito a um voto. O poder de Blatter tem vindo a diminuir na Europa (54 federações) muito por culpa da pressão de Michel Platini, presidente da UEFA, mas mantém-se inalterado noutras zonas do globo.
Logo no dia seguinte às detenções dos dirigentes da FIFA, o xeque Salman bin Ebrahim Al Khalifa, líder da AFC, reiterou o apoio da confederação ao suíço: «Deixámos claro o caminho que a Ásia tomará nas eleições. As 46 federações comprometeram-se com Blatter. Nada mudou».
Discurso semelhante ao protagonizado por Issa Hayatou, presidente da CAF, que já tinha prometido os 54 votos dos países africanos para a reeleição do suíço.
A lealdade de asiáticos e africanos explica-se pelo apoio que a FIFA tem dado a estes países desde 1998, ano em que Blatter assumiu a liderança. Foi sob a sua presidência que a Ásia se estreou a organizar Mundiais (Coreia do Sul/Japão em 2002) e o mesmo aconteceu com África (África do Sul em 2010).
O número de vagas no Campeonato do Mundo para equipas dos dois continentes também aumentou – de dois para cinco em África e para quatro na Ásia. Além de que africanos e asiáticos passaram a ter mais representantes na própria direcção da FIFA, descentralizando o poder que residia na Europa.
Na sequência das detenções, Platini pediu a cabeça de Blatter, mas esta posição quase não encontrou eco fora da Europa.
«O que está a ser falado sobre a FIFA e sobre Blatter é algo que nós, no futebol indiano, não reconhecemos», disse Kushal Das, secretário-geral da federação da Índia, ao The Guardian. «A FIFA tem-nos apoiado muito, sem ela não íamos a lado nenhum. É uma organização fantástica, que está a fazer um grande trabalho para que o futebol evolua na Índia e em todo o mundo».
Nem a pressão do governo alterou o sentido de voto de alguns países, como é o caso da Guiné Bissau. O poder político queria apoiar Figo, devido às relações entre Portugal e Guiné, mas o presidente da federação guineense, Manuel Nascimento Lopes, foi claro: «Quem tiver o seu compromisso com o Luís Figo que vá ter com ele. Eu vou votar no Joseph Blatter».
Países como a Guiné mantêm-se fiéis ao suíço por causa da ajuda financeira dada pela FIFA. Os estatutos da entidade obrigam a que 70% do lucro obtido em cada Mundial seja reinvestido no futebol. E Blatter faz esse investimento como entende, limitando as hipóteses da concorrência.
No dia seguinte à apresentação das candidaturas de Figo, Michael van Praag e Al Hussein, o presidente da FIFA anunciou que iria distribuir cerca de 300 mil dólares (265 mil euros) por cada uma das 209 federações. A verba não significa muito para alguns países, mas representa cerca de 20% do orçamento anual de 100 das 209 federações com poder de voto.
A mesma prática foi utilizada antes das eleições de 2011. Num congresso da CONCACAF, Blatter doou perto de um milhão de euros à confederação. Platini estava presente e disse a Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA, que não havia autorização para aquela oferta. Valcke respondeu: «Calma, eu vou encontrar o dinheiro para o senhor Blatter».
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